REIS DE PORTUGAL , MONARQUIA PORTUGUESA
Primeira Dinastia
Filha ilegítima de D. Afonso VI de Leão, Castela e Galiza, desconhece-se a sua data de nascimento, sabendo-se apenas que morreu em 1130. Tornou-se esposa de D. Henrique de Borgonha, sendo-lhes entregue o Condado Portucalense (1095). Após a morte de D. Henrique em 1112, e na menoridade de seu filho D. Afonso Henriques, D.Teresa ficou à frente dos destinos do Condado. Influenciada pela família Peres de Trava, tentou prosseguir com a política de independência face a Leão e com o alargamento do território. Em desacordo com sua mãe, o infante armou-se a si próprio cavaleiro e, em 1128, derrotou as forças de D. Teresa na Batalha de S. Mamede, após o que ela se refugiou na Galiza.
O conde D. Henrique (? - 1112) era filho (4.º) de Henrique de Borgonha,
bisneto de Roberto I de França, sobrinho-neto do abade S. Hugo de Cluny. A sua
vida e carreira política são condicionadas por três factores dominantes: o
feudalismo, o espírito de cruzada e a reforma gregoriana. Enquanto senhor
feudal, pretende uma maior autonomia e valoriza a sucessão masculina; como
cruzado, sente-se atraído pelas zonas de maior perigo e daqui se compreende a
sua vinda para a península; como gregoriano, contribui para a definitiva
introdução da liturgia romana e da escrita carolíngia em Portugal.
Casou pelos trinta anos com D. Teresa de Aragão, filha de D. Afonso VI e de
Ximena Nunes. Antes do seu casamento ter-se-á distinguido, na fronteira sul da
Península, no combate aos mouros (almorávidas). Em 18 de Dezembro de 1095 era já
senhor de Coimbra, no ano seguinte, em 24 de Abril, era também senhor de Braga.
Procurou, no início do seu governo, organizar o território firmando nele a sua
autoridade, através da atribuição de forais (Guimarães e Constantim de Panoias).
A 9 de Dezembro de 1097, em Compostela, intitula-se "comes Portucalensis". Em
termos jurídicos, a situação de D. Henrique seria a seguinte: de 1095 a 1097 D.
Henrique e sua mulher teriam a tenência (governo) dos territórios do Porto,
Coimbra e Santarém; a partir de 1097, participava já da soberania sobre o
território que recebera de herança. No entanto, só após a morte de Afonso VI é
que D. Henrique ousa agir como potência independente.
Durante o período do seu governo, D. Henrique tomou parte activa nas actividades
do Império; assim, em 1100, travou batalha com os almorávidas em Malagón. No ano
seguinte e até 1103 foi a Roma juntamente com S. Geraldo de Braga defender junto
do Papa os direitos desta cidade. Em Setembro de 1104 estabelece com D. Raimundo
um Pacto Sucessório em que reconhece este último como único herdeiro de Afonso
VI e se prometem mutuamente amizade e assistência. Como contrapartida deste
acordo, Raimundo promete a D. Henrique Toledo, com parte do seu tesouro, ou a
Galiza. Neste pacto não há qualquer referência a Portugal, não se podendo por
ele pressupor a preparação da independência. Em 13 de Setembro de 1107 morre
Raimundo e no ano seguinte o infante D. Sancho que lhe deveria suceder. Após
estes acontecimentos, D. Henrique vai junto da corte de D. Afonso VI, em Toledo,
contudo, zanga-se com o sogro e este expulsa-o da sua corte. Depois disto, D.
Henrique regressa a Portugal onde submete os mouros de Sintra e se desloca a
Coimbra. Nesta cidade doa à diocese o Mosteiro de Lorvão usando o mesmo
formulário de chancelaria que 15 anos antes fora usado pelo herdeiro do trono em
acto semelhante. A partir desta altura começa a actuar como potência
independente.
D. Henrique tomou partido contrário a D. Urraca como herdeira de Afonso VI; em
1110, na batalha de Campo de la Espina, vence as tropas de D. Urraca; em
Novembro do mesmo ano dá-se a conferência de Monzón entre D. Henrique e D.
Urraca; em Novembro do mesmo ano D. Henrique cerca D. Afonso I em Peñafiel. Este
cerco foi desfeito pela intervenção de D. Teresa que convence o marido a retirar
o apoio a D. Urraca enquanto esta não definir claramente os termos da aliança.
Em Fevereiro ou Março de 1111 D. Henrique cerca D. Urraca, que entretanto fizera
as pazes com o rei de Aragão. Na Primavera deste ano vivem-se dificuldades em
Portugal agravadas pela ameaça almorávida sobre o Tejo. No Inverno deste último
ano D. Henrique domina territórios que dependem ou de D. Urraca ou de Afonso I,
tais como Zamora, Astorga e Oca. Em 1112 fez-se a paz com D. Urraca que, por sua
vez, também a fizera com o filho. D. Henrique faleceu, em Astorga, nos últimos
dias de Abril de 1112, tendo determinado que fosse sepultado na Sé Catedral de
Braga.
Cognominado
"o Conquistador", foi o primeiro rei de Portugal, governando de 1128 a 1185.
Filho de D. Henrique de Borgonha e de D. Teresa de Aragão, nasceu provavelmente
em Guimarães (embora Coimbra seja também um local apontado para o seu
nascimento) em finais de 1108 (ou primeiros meses de 1109) e faleceu em 1185.
Casou em 1146 com D. Mafalda, filha de Amadeu II, conde de Moriana e Sabóia.
Após a morte de D. Henrique, D. Teresa ficou à frente dos destinos do Condado
Portucalense, sendo influenciada politicamente pela família Peres de Trava. O
jovem infante tomou então uma posição política oposta à de sua mãe, sob a
direcção do arcebispo de Braga D. Paio. Ter-se-á armado cavaleiro no dia de
Pentecostes de 1122, por suas próprias mãos, na catedral de Zamora. Em Setembro
de 1127 D. Afonso VII invadiu Portugal e cercou o Castelo de Guimarães, onde se
encontrava o infante. Depois de D. Afonso Henriques ter reafirmado a sua
lealdade perante Afonso VII, rei de Leão, este desistiu de conquistar a cidade e
levantou o cerco. Feitas as pazes com Afonso VII, a posição de D. Afonso
Henriques e dos nobres que o acompanham volta-se contra D. Teresa e a família
Trava. O conflito só viria a ser sanado com a batalha de S. Mamede, que teve
lugar a 24 de Junho de 1128 nos arredores de Guimarães, tendo saído vitoriosas
as hostes de D. Afonso Henriques. A partir desta data passou o infante a
governar o condado.
Depois de ter resolvido as escaramuças na fronteira com a Galiza e assinado
tréguas de dois anos com Afonso VII, voltou-se para a fronteira meridional,
tendo fundado em finais de 1135 o castelo de Leiria, que viria a ser de
importância fundamental para a reconquista. Novamente as atenções de D. Afonso
Henriques se voltaram para a fronteira setentrional, só que em simultâneo os
muçulmanos tomaram Leiria. Tendo firmado novamente a paz com Afonso VII, D.
Afonso Henriques acorre ao sul, onde defrontou os muçulmanos na Batalha de
Ourique. Esta famosa batalha viria a ser origem de lendas e exageros, não se
sabendo ainda hoje com exactidão o local onde se terá travado. Uma certeza há,
no entanto: a partir daqui começou D. Afonso Henriques a intitular-se rei.
D. Afonso Henriques iniciou então
uma nova fase na sua política de aproximação à Santa Sé, da qual se declarou
vassalo em 1143. O papa, contudo, limitou-se a tratá-lo por Dux. Por sua vez, D.
Afonso VII reagiu mal a esta posição de D. Afonso Henriques e não lhe reconheceu
o título de rei.
A reconquista prosseguiu, no entanto, e D. Afonso Henriques não perdeu a
primeira oportunidade que se lhe deparou para conquistar Santarém e Lisboa. A
primeira foi tomada de assalto em Março de 1147, o cerco da segunda foi,
todavia, demorado e difícil, tendo sido importante a ajuda proporcionada pela
expedição de cruzados que se encontrava de passagem pelo nosso litoral. A cidade
só veio a render-se em 24 de Outubro desse mesmo ano. Após estas conquistas, a
actividade militar abrandou, pois era altura de procurar povoar e organizar o
território e de incrementar a política de autonomia da Igreja portuguesa junto
da Santa Sé. O principal obreiro desta política foi D. João Peculiar, arcebispo
de Braga.
Com a morte de Afonso VII, os seus dois filhos entenderam-se para submeter D.
Afonso Henriques. Porém, a morte de Sancho pouco tempo depois veio alterar o
panorama peninsular. Parece que terá então Fernando II reconhecido D. Afonso
Henriques como rei de Portugal a troco do seu reconhecimento como rei de toda a
Espanha. Pensa-se, contudo, que a fronteira meridional continuava a ser o Tejo.
Compreende-se assim a inquietação que causava ao rei de Leão a acção de Geraldo
no Alentejo, tanto mais que as conquistas inflectiam cada vez mais para leste.
Tendo ido D. Afonso Henriques em auxílio de Geraldo em Badajoz, aproveitou
Fernando II um acidente em que o nosso rei partiu uma perna para o aprisionar. A
liberdade só foi restituída a troco dos territórios tudenses, não sendo, no
entanto, contestadas as conquistas a oeste de Badajoz. Os muçulmanos passaram
então a tomar a iniciativa, tendo cercado em Santarém o próprio rei de Portugal
após terem reconquistado todo o Alentejo. D. Afonso Henriques foi auxiliado pelo
rei de Leão, que, como rei das Espanhas, não podia deixar de se considerar
obrigado a intervir, vindo a ser assinadas tréguas com os muçulmanos.
A maioridade de Afonso VIII de Castela, em 1179, tornou a posição de D. Fernando
II insustentável como rei das Espanhas. Desta forma, pressionado por diversos
campos, veio a ceder, reconhecendo assim definitivamente a autonomia política de
Portugal. Tanto mais que, pela Bula "Manifestis Probatum" de 23 de Maio desse
mesmo ano, o papa Alexandre III conferiu a D. Afonso Henriques o direito de
conquista de terras aos muçulmanos sobre as quais outros príncipes cristãos não
tivessem direitos anteriores, e foi nesta bula que, pela primeira vez, D. Afonso
Henriques foi designado como rei.
Após o incidente de Badajoz, a carreira militar de D. Afonso Henriques
praticamente terminou. Dedicou a partir daí quase toda a sua vida à
administração dos territórios com a co-regência do seu filho D. Sancho. Procurou
fixar a população, promoveu o municipalismo e concedeu forais. Contou com a
ajuda da ordem religiosa dos Cistercienses para o desenvolvimento da economia,
predominantemente agrária. Não podemos também deixar de referir o papel que as
ordens religiosas militares, dos Templários, dos Hospitalários e de Sant'Iago,
tiveram na reconquista. D. Afonso Henriques retribuiu esses serviços com
avultadas concessões.
D. Afonso Henriques faleceu a 6 de Dezembro de 1185 após um governo de mais de
57 anos. Foi sepultado na Igreja de Santa Cruz de Coimbra, onde ainda hoje
permanecem os seus restos mortais.
O Conquistador
1.º Monarca
Reinado: 1143 - 1185
1108 - Nascimento de D. Afonso Henriques em Guimarães.
Após a morte do pai, o Conde D. Henrique de Borgonha, D. Teresa de Aragão, sua
mãe, assume o governo do Condado Portucalense.
1122 - D. Afonso Henriques, ainda infante, arma-se a si próprio cavaleiro na
Catedral de Zamora.
1127 - D. Afonso VII de Castela cerca o Castelo de Guimarães onde se encontra o
infante.
1128 - Batalha de S. Mamede entre partidários de D. Afonso Henriques e de sua
mãe D. Teresa.
D. Afonso Henriques sai vitorioso, assumindo o governo do Condado Portucalense.
1137 - Batalha de Cerneja, cujo principal objectivo é a libertação do jugo do
reino de Leão.
D. Afonso Henriques sai vencedor mas é obrigado a restituir as terras
conquistadas a norte, no Tratado de Paz de Tui, em troca de Tomar e Leiria,
invadidas a sul pelos Mouros.
1139 - Batalha de Ourique contra os Mouros.
Depois da vitória, D. Afonso Henriques começa a intitular-se rei.
1142 - D. Afonso Henriques presta vassalagem à Santa Sé.
1143 - Conferência de Zamora onde D. Afonso VII, rei de Leão, reconhece a
independência do Condado Portucalense.
Este passa a chamar-se Reino de Portugal e é concedido o título de rei a D.
Afonso Henriques.
1146 - Casamento do rei com D. Mafalda de Sabóia.
1147 - Conquista de Santarém, Lisboa, Sintra, Almada e Palmela.
- Outras conquistas aos Mouros, entre as quais se destacam Alcácer do Sal
(1158), Beja (1162), Évora (1165), Moura, Serpa e Juromenha (1166).
1179 - O Papa Alexandre III reconhece D. Afonso Henriques como rei e Portugal
como reino, pela Bula "Manifestis Probatum".
1185 - Morte de D. Afonso Henriques.
Filha do conde de Moriana e Sabóia, Amadeu II, D. Mafalda (ou Matilde) foi a primeira rainha de Portugal, por casamento com D. Afonso Henriques, celebrado em 1146. Crê-se que terá morrido em 1158 ou 1159.
Segundo rei
de Portugal (1185-1211), filho de D. Afonso Henriques e de D. Mafalda, foi
cognominado "o Povoador". Nasceu em 11 de Novembro de 1154, em Coimbra, e morreu
em 26 de Março de 1211 na mesma cidade. Casou em 1174 com D. Dulce de Aragão,
filha de Raimundo Béranger IV. Subiu ao trono em Dezembro de 1185 por morte de
D. Afonso Henriques.
Foi iniciado na vida militar aos 12 anos, tendo chefiado uma expedição a Cidade
Rodrigo contra Fernando II que se saldou por um fracasso. Foi armado cavaleiro
em 15 de Agosto de 1170, na cidade de Coimbra, logo após o acidente de D. Afonso
Henriques em Badajoz. Participou desde então no exercício do poder político,
talvez devido à incapacidade física do rei.
O povoamento das terras abandonadas foi uma das suas principais preocupações.
Para alcançar este objectivo desenvolveu as instituições municipais e concedeu
diversos forais, principalmente na Beira e em Trás-os-Montes: Gouveia (1186),
Covilhã (1186), Viseu (1187), Bragança (1187), etc. Entre os anos de 1192 e 1195
receberam também forais Penacova, Marmelar, Pontével, Povos e S. Vicente da
Beira. Os concelhos fronteiriços receberam privilégios particulares, tais como
isenção de trabalhar na construção de castelos e muros, isenção do pagamento dos
impostos de portagem e de colheita. A criação dos concelhos, para além do
contributo que deu para o melhoramento económico e social, trouxe também
vantagens de ordem militar e financeira, pois promoveu o aumento do número de
combatentes que não recebiam soldo. Fixaram-se também em Portugal neste período
numerosos colonos estrangeiros. As ordens religiosas, nomeadamente as militares,
receberam de D. Sancho inúmeras concessões de terras e castelos.
O monarca aproveitou a passagem pelo porto de Lisboa dos cruzados da terceira
cruzada, na primavera de 1189, para atacar o Algarve. Tomou o castelo de Alvor e
atacou Silves (que era na época uma das mais populosas e cultas cidades do
ocidente peninsular). Foi acordado que a cidade seria para os portugueses e o
saque para os cruzados. Após uma rápida conquista dos subúrbios, portugueses e
cruzados depararam-se com uma encarniçada resistência que durou 43 dias. D.
Sancho I passou então a intitular-se rei de Portugal e dos Algarves. Durou pouco
tempo esta conquista, já que em 1190 Iacub Almançor cercou a cidade de Silves
com um exército e com outro atacou Torres Novas, que apenas conseguiu resistir
durante 10 dias. Torres Novas foi, pouco depois, restituída pelos muçulmanos,
mas estes, entusiasmados com a reconquista de Silves, reconquistaram também
Alcácer, Palmela e Almada.
D. Sancho envolveu-se também nos conflitos entre Leão e Castela, entrando em
guerra com Leão em 1196 e 1199. Durante o seu reinado, deterioraram-se as boas
relações com a Santa Sé, primeiro por tentar furtar-se ao pagamento do censo
anual de dois marcos-ouro, depois por ter entrado em litígio com o bispo do
Porto aquando do casamento do herdeiro do trono com D. Urraca, filha de Afonso
VIII. O papa Inocêncio III incumbiu o bispo de Samora de anunciar a pena de
excomunhão a D. Sancho e àqueles que tinham retido o bispo. O monarca português
entrou também em conflito com o bispo de Coimbra, tendo sido por isso admoestado
pelo papa. Ao sentir aproximar-se a sua morte, reconciliou-se com os prelados e
aceitou as exigências do papa.
Segundo o estudioso Jaime Batalha Reis, iniciou-se no reinado de D. Sancho I a
amoedação do ouro, que para outros autores terá surgido anteriormente. O
trabalho administrativo continuou a fazer-se na Câmara Régia que funcionava no
Paço, tal como no reinado anterior, estando todo o trabalho a cargo de um só
homem, o chanceler. Neste reinado sabe-se que alguns portugueses frequentaram
universidades estrangeiras e que um grupo de juristas conhecia o Direito que se
ministrava na escola de Bolonha. Também o rei foi poeta e em 1192 concedeu ao
mosteiro de Santa Cruz 400 morabitinos para que se mantivessem em França os
monges que lá quisessem estudar.
O Povoador
2.º Monarca
Reinado: 1185 - 1211
1154 - Nascimento de D. Sancho em Coimbra.
1174 - Casamento de D. Sancho com D. Dulce de Aragão.
1185 - Coroação sob o título de D. Sancho I.
1189 - Prosseguimento das lutas contra os Mouros.
Conquista de Silves, Alvor, Albufeira, Lagos, Portimão, Monchique e Messines,
entre outras terras a sul.
1191 - Retoma de Silves e de outras praças algarvias, assim como de Alcácer do
Sal, Palmela e Almada.
1196 - Envolvimento no conflito entre Leão e Castela.
D. Sancho I entra em guerra com Leão.
1200 - Estabelecimento da paz entre Portugal e o reino de Leão.
1211 - Morte de D. Sancho I.
Terceiro
rei de Portugal (1211-1223), filho de D. Sancho I e da rainha D. Dulce, nasceu
em Coimbra em 1185 e faleceu em 1223. Casou com D. Urraca, infanta de Castela, e
subiu ao trono em finais de Março de 1211. Recebeu o cognome de "o Gordo".
Não tinha vocação militar, por isso abandonou a política de expansão
territorial, preocupação dominante até então, para procurar dotar o país de uma
concepção moderna da função do Estado, do rei e da unidade nacional. Com tais
objectivos, logo que subiu ao trono, em 1211, convocou Cortes para Coimbra.
Destas saiu a primeira colectânea de leis gerais do país, que mostram desde logo
a acção centralizadora do rei na oposição aos abusos das classes privilegiadas.
Foram tomadas também uma série de medidas gerais que se destinaram a garantir o
direito de propriedade, regular a justiça civil, defender os interesses
materiais da coroa e evitar certos abusos dos privilegiados. As confirmações,
raras até este período, e que se generalizaram entre 1216 e 1221 como medida de
administração pública, mostram, também, o desejo de firmar a soberania da coroa.
Uma outra medida tomada para reprimir os abusos das classes privilegiadas foram
as inquirições.
Esta nova política levou também a conflitos com o clero e com as infantas suas
irmãs. D. Sancho I tinha deixado, por testamento, às infantas D. Teresa, D.
Sancha e D. Mafalda numerosas mercês em terras e dinheiro sobre as quais D.
Afonso II pretendia o pagamento de direitos régios. As infantas apelaram para o
papa, que, após alguns avanços e recuos, veio a confirmar a posição de D. Afonso
II.
Apesar de, como já dissemos, não ter tido preocupações militares, enviou tropas
portuguesas que, ao lado de castelhanas, aragonesas e francesas, combateram
bravamente na célebre batalha de Navas de Tolosa na defesa da Península contra
os muçulmanos. Alcácer do Sal foi a principal conquista do seu reinado.
O Gordo
3.º Monarca
Reinado: 1211 - 1223
1185 - Nascimento de D. Afonso em Coimbra.
1208 - Casamento de D. Afonso com D. Urraca de Castela.
1211 - Coroação sob o título de D. Afonso II.
- Realização das cortes de Coimbra, onde são aprovadas as primeiras leis gerais
que se conhecem no reino. Estas são as mais antigas cortes de que há notícia
exacta.
1212 - Batalha de Navas de Tolosa onde D. Afonso II presta auxílio ao seu sogro,
Afonso VIII, rei de Castela, na defesa da Península contra os Muçulmanos.
1217 - Reconquista de Alcácer do Sal.
1220 - Ordenação das primeiras Inquirições Gerais.
1223 - Morte de D. Afonso II.
Cognominado
"o Rei Capelo", foi o quarto rei de Portugal (1223-1245). Nasceu em Coimbra em
1209 e faleceu em Toledo em 4 de Janeiro de 1248. Filho de D. Afonso II e de D.
Urraca, subiu ao trono em Março de 1223. Era indicado como herdeiro no
testamento de D. Afonso II, muito embora a ordem de sucessão fosse já então um
facto. Casou, cerca de 1240, com D. Mécia Lopes, neta de Afonso IX de Leão e
viúva de Álvaro Peres de Castro. Deste casamento não houve descendência.
Tendo D. Sancho herdado o trono aos 13 anos, o governo do reino esteve
primeiramente a cargo de ricos-homens que apressaram o pequeno rei a regularizar
as relações com a Igreja. Foi elaborada uma concórdia com a igreja e,
finalmente, resolvido o problema com as infantas, irmãs de D. Afonso II. Depois
de resolvidas estas questões procurou D. Sancho II dedicar-se à administração do
País, concedendo forais a diversas povoações. Iniciou, também, uma nova fase de
expansão territorial, que durou todo o seu reinado e terminou apenas com D.
Afonso III.
Aproveitando-se das lutas que Afonso IX de Leão mantinha com os Mouros, o
monarca iniciou uma campanha no Alentejo em 1226. Entre este ano e 1239
conquistou todo o Alentejo, tendo, para tal, muito contribuído a acção da Ordem
de Sant'Iago. Esta Ordem militar recebeu como pagamento dos serviços prestados
diversas povoações, tais como Aljustrel, Sesimbra, Aljafar de Pena, Mértola,
Aiamonte e Tavira.
Apesar desta excelente actuação militar, o rei, no que concerne à administração,
revelou-se fraco e indeciso, de tal modo que aquela se tornou desleixada e
descuidada. Os nobres abusavam pela sua prepotência de vencedores, os bispos
aproveitavam os distúrbios causados por aqueles para se imiscuírem na vida
pública e política. A luta entre homens da Igreja e ricos-homens tornou-se quase
permanente. Também as ordens monásticas reclamaram dos abusos por parte dos
nobres. O bispo do Porto, Martinho Rodrigues, queixou-se ao papa de que o rei
usurpava o direito de jurisdição sobre a cidade, que dependia da Sé. O papa
admoestou o rei, que pareceu submeter-se. Também o bispo de Lisboa se revoltou
contra o rei, acusando-o de ofender as liberdades religiosas. Mais uma vez o
papa recorreu a admoestações. Contudo, quando em 1238 outras queixas, do novo
bispo do Porto, se levantaram contra o rei, o bispo de Salamanca lançou um
interdito que o papa confirmou. Todas estas queixas mostram a desordem que
grassava no reino devido às constantes brigas entre nobres e clero, brigas que o
rei se mostrava incapaz de sanar.
Todas estas queixas por parte do clero foram ainda agravadas por intrigas
alimentadas pelo príncipe D. Afonso, que desde 1238 vivia em Bolonha. No
concílio de Lião, prelados e nobres portugueses descreviam a desordem do reino
em termos tais que deles se pode inferir a deposição do rei. A resposta por
parte do papa foi uma bula onde dizia dever incumbir-se da restauração do reino
alguém activo e prudente, e que esse alguém só poderia ser D. Afonso. Numa
assembleia de prelados e nobres portugueses, reunida em Paris, D. Afonso jurou
que guardaria e faria guardar todos os privilégios, foros e costumes dos
municípios, cavaleiros, peões, religiosos e clérigos seculares do reino. Em
finais de 1245 ou nos princípios do ano seguinte, o conde de Bolonha desembarcou
em Lisboa. Da luta entre partidários do rei e de D. Afonso saiu vitoriosa a
facção de D. Afonso. D. Sancho II retirou-se para Toledo, onde viria a falecer
pouco tempo depois.
O Capelo
4.º Monarca
Reinado: 1223 - 1245
1209 - Nascimento de D. Sancho em Coimbra.
1223 - Coroação sob o título de D. Sancho II.
1226 - Início de uma campanha em todo o Alentejo e parte do Algarve, tomando aos
Mouros terras como Elvas, Moura, Serpa, Mértola e Tavira, entre outras.
A expansão territorial empreendida por D. Sancho II dura quase todo o seu
reinado.
1240 - Casamento do rei com D. Mécia Lopes.
1245 - Afastamento de D. Sancho II provocado pelo Papa Inocêncio IV, que designa
D. Afonso III como seu substituto.
1248 - Morte de D. Sancho II.
Quinto rei
de Portugal (1245-1279), "o Bolonhês" nasceu provavelmente em Coimbra, a 5 de
Maio de 1210. Segundo filho de D. Afonso II e de D. Urraca, partiu em 1227 para
França, onde frequentou a corte de Luís IX, tendo disso muito beneficiado. Casou
em 1238 com D. Matilde, condessa de Bolonha, viúva de Filipe-o-Crespo.
Chegou a Lisboa em finais de 1245 ou princípios de 1246. Com os títulos de
visitador, curador e defensor do reino, foi aclamado rei após ter vencido pela
força das armas o seu irmão D. Sancho II.
O facto de maior destaque do seu reinado foi a conquista definitiva do Algarve.
Em Março de 1249 foi conquistada a cidade de Faro. Os freires de Sant'Iago e
Calatrava tiveram aí um papel determinante, tendo-lhes sido confiada a empresa
de concluírem a conquista. A conquista do Algarve levou, contudo, a graves
discórdias com Castela. As pazes foram inicialmente alcançadas com o casamento
de D. Afonso III com D. Beatriz, filha ilegítima de Afonso X (após o papa ter
anulado o casamento com D. Matilde por esta ser estéril), mas o problema só foi
definitivamente resolvido pelo Tratado de Badajoz, de 16 de Fevereiro de 1267.
Por este tratado ficou definido que seria o Guadiana, desde a confluência do
Caia até à foz, a fronteira luso-castelhana.
D. Afonso III foi também um bom administrador, fundou povoações, restaurou,
repovoou e mandou cultivar inúmeros lugares arruinados, e concedeu numerosos
forais. Reuniu Cortes em Leiria, em 1254, as primeiras em que participaram
representantes dos concelhos. As Cortes de Coimbra de 1261 foram também
importantes, pois nelas foi reconhecido ao rei o direito de cunhar moeda fraca.
Procedeu a inquirições em 1258, revelando as respectivas actas os inúmeros
abusos praticados pelas classes privilegiadas. Legislou para reprimir estes
abusos. Estas leis provocaram a imediata reacção do clero, que apelou para Roma.
Só a proximidade da morte levou o rei a recuar, tendo jurado submissão a Santa
Sé em Janeiro de 1279. Faleceu em 16 de Fevereiro do mesmo ano, tendo sido
sepultado em Alcobaça.
O Bolonhês
5.º Monarca
Reinado: 1245 - 1279
1210 - Nascimento de D. Afonso em Coimbra.
1238 - Casamento de D. Afonso com D. Matilde de Bolonha.
1245 - Assunção da regência do reino após seu irmão ser afastado do poder.
1248 - Coroação sob o título de D. Afonso III.
1249 - Após tomada de Faro aos Mouros, o rei empreende a conquista definitiva do
Algarve.
A partir deste feito, D. Afonso III e todos os reis que lhe sucedem passam a
usar o título de "Rei de Portugal e dos Algarves".
1253 - Casamento do rei com D. Beatriz de Castela.
1254 - Cortes de Leiria onde, pela primeira vez, se reúnem representantes do
Povo, ao lado do Clero e da Nobreza.
1267 - Tratado de Badajoz que reconhece o direito de Portugal ao Algarve, sendo
a fronteira deste marcada pelo Rio Guadiana.
1279 - Morte de D. Afonso III.
Mãe de D. Dinis (1244-1300), segunda esposa de D. Afonso III, a quem se uniu em 1253 (o casamento teve que ser revalidado em 1262, após a morte da esposa anterior, D. Matilde). Era filha ilegítima do rei Afonso X de Castela, o Sábio, e o seu matrimónio com o monarca português serviu para pacificar, provisoriamente embora, as relações entre os dois reinos.
Sexto rei
de Portugal, filho de D. Afonso III e de D. Beatriz de Castela, nasceu a 9 de
Outubro de 1261 e faleceu em 1325. Foi aclamado rei em Lisboa, em 1279, tendo
governado durante 46 anos. Casou em 1282 com D. Isabel de Aragão (a rainha Santa
Isabel); a rainha teria também um papel importante ao longo deste reinado, não
só pelas suas acções de caridade mas, sobretudo, pela sua actuação ao lado do
rei na política externa, e entre ele e o filho aquando das lutas entre ambos.
Foi o primeiro rei a não ter que se preocupar com a expansão territorial.
Procurou lutar contra os privilégios que, de alguma forma, iam contra a sua
autoridade. Em 1282 estabeleceu que todas as apelações de quaisquer juízes só
poderiam fazer-se para o rei. Recorreu a inquirições em 1284, tendo havido
outras ao longo do seu reinado. Procurou um acordo com a Igreja, acordo que
viria a ser estabelecido por concordata em 1290. Proibiu às Ordens e aos
clérigos a aquisição de bens de raiz, mas procurou também defender a Igreja dos
abusos resultantes do sistema do padroado. Apoiou os cavaleiros da Ordem de
Sant'Iago ao separarem-se do seu mestre castelhano, e salvou a dos Templários em
Portugal, dando-lhe nova existência sob o nome de Ordem de Cristo.
Entrou em guerra com Castela em 1295, a qual só veio a terminar pelo Tratado de
Alcanizes, lavrado na vila castelhana do mesmo nome em 12 de Setembro de 1297.
Por este tratado previa-se uma paz de 40 anos, amizade e defesa mútuas. Foram
também estabilizadas as fronteiras em zonas nevrálgicas como a Beira e o
Alentejo, com excepção de pequenas áreas que rapidamente se viriam a integrar no
reino.
Desenvolveu as feiras, criando as chamadas feiras francas ao conceder a várias
povoações diversos privilégios e isenções. Protegeu as exportações para os
portos da Flandres, Inglaterra e França; em 1308 celebrou um tratado de comércio
com o rei de Inglaterra e instituiu definitivamente a marinha portuguesa.
Foi, no entanto, a agricultura que mais o interessou (daí o seu cognome, "o
Lavrador"). Procurou interessar toda a população na exploração das terras,
facilitando a sua distribuição. No Entre Douro e Minho dividiu as terras em
casais, cada casal vindo mais tarde a dar origem a uma povoação. Em
Trás-os-Montes o rei adoptou um regime colectivista; as terras eram entregues a
um grupo que repartia entre si os encargos, determinados serviços e edifícios
eram comunitários, tais como o forno do pão, o moinho e a guarda do rebanho. Na
Estremadura a forma de povoamento dominante foi a que teve por base o imposto da
jugada; outros tipos de divisão foram também utilizados, como, por exemplo, a
parceria.
Ele próprio poeta, D. Dinis deu também um grande impulso à cultura. Ordenou o
uso exclusivo da língua portuguesa nos documentos oficiais. Fundou em Lisboa, em
1290, um Estudo Geral (Universidade) no qual foram desde logo ensinadas as
Artes, o Direito Civil, o Direito Canónico e a Medicina. Mandou traduzir
importantes obras, tendo sido a sua Corte um dos maiores centros literários da
Península.
O Lavrador
6.º Monarca
Reinado: 1279 - 1325
1261 - Nascimento de D. Dinis.
1279 - Coroação de D. Dinis.
1282 - Casamento do rei com D. Isabel de Aragão, a Rainha Santa Isabel.
1290 - Fundação da Universidade denominada Estudo Geral, em Lisboa.
1295 - Guerra com Castela.
1297 - Tratado de Alcanizes que, além de terminar com a guerra, prevê uma paz de
40 anos, amizade e defesas mútuas com Castela.
Neste tratado são também estabilizadas as fronteiras definitivas do território
português.
1308 - Instituição definitiva da marinha portuguesa, após celebração do primeiro
tratado de comércio com a Inglaterra.
1315 - Solicitação ao Papa da criação da Ordem de Cristo para a qual deverão
transitar os domínios e bens dos Templários.
Depois do consentimento, a Ordem passa a ter sede no Convento de Tomar.
1317 - Organização da marinha de guerra.
1325 - Morte de D. Dinis.
Isabel de Portugal (Rainha Santa Isabel), nascida em Saragoça ou em Barcelona
por volta de 1270 e morreu em Estremoz no ano de 1336.
Rainha de Portugal, mulher de D. Dinis, filha de Pedro III de Aragão e de D.
Constança de Navarra e neta de Jaime I, o Conquistador. Desde nova mostrou
tendência para a meditação e solidão, rezas e jejuns. Entre os seus pretendentes
contavam-se Eduardo I de Inglaterra, Roberto de Anjou e D. Dinis de Portugal.
Foi este quem o seu pai escolheu pois oferecia-lhe desde logo um trono. O
contrato de casamento foi concertado em 24 de Abril de 1281 e tinha a
particularidade de ser o primeiro celebrado em Portugal com escritura
antenupcial, segundo o direito romano. Por ele, a nova rainha recebeu Óbidos,
Abrantes, Porto de Mós com todas as suas rendas, e ainda 12 castelos. O seu pai,
por seu turno, dotou-a com 10 mil maravedis e jóias. Ficou célebre o cortejo que
acompanhou a nova rainha a Portugal depois do casamento, realizado por
procuração na cidade de Barcelona em 1288. De Bragança, onde era aguardada pelo
infante D. Afonso, a comitiva, onde se incorporavam nobres portugueses, seguiu
para Trancoso onde D. Dinis a esperava e onde, a 24 de Junho, se realizou a
cerimónia de casamento que os cronistas celebrizaram. Em 1304 regressou à sua
terra natal quando D. Dinis aí teve de se deslocar como medianeiro do conflito
entre Fernando IV de Castela e Jaime II de Aragão. Também em Portugal era
constante a sua presença junto do marido nas deslocações que este fazia pelo
reino; esse facto trouxe-lhe grande popularidade junto do povo, pois nessas
alturas dava esmolas aos pobres, a raparigas pobres e distribuía alimentos. Não
se alheou dos problemas políticos nacionais, interferindo na guerra civil que
opôs o rei ao príncipe herdeiro D. Afonso; acusada pelo marido de favorecer os
interesses do filho foi mandada sob custódia para Alenquer. No entanto,
continuou a interessar-se pelo problema e foi por sua influência directa que se
assinou a paz de 1322; no ano seguinte evita o reacender da luta colocando-se
entre os exércitos preparados para a batalha. Depois da morte de D. Dinis (1325)
recolheu-se nos Paços de Santa Ana, junto a Santa Clara de Coimbra; até à morte
promoveu uma série de obras pias fundando ou ajudando à fundação de hospitais
(Coimbra, Santarém, Leiria), asilos e albergarias (Leiria, Odivelas), mosteiros,
capelas (Convento da Trindade em Lisboa, claustro em Alcobaça, capelas em Leiria
e Óbidos). Deixou em testamento grandes legados a muitas destas instituições.
Foi sepultada por sua vontade no Convento de Santa Clara e, no século XVII, o
seu corpo foi trasladado para o novo mosteiro fundado por D. João IV em
substituição do antigo, ameaçado pelas águas do Mondego, e depositada num cofre
de prata e cristal. O povo, desde cedo, considerou-a santa, atribuindo-lhe
inúmeros milagres. A pedido de D. Manuel I foi beatificada por Leão X
(15-4-1516); em 1625 foi canonizada por Urbano VIII.
Rainha de Portugal (c.1270-1336), era filha dos reis de Aragão e casou em 1282 com D. Dinis. Acompanhava o marido nas suas deslocações, inteirando-se assim das condições de vida do povo e socorrendo-o na medida das suas possibilidades. Fundou vários hospitais, por exemplo em Coimbra, Leiria e Santarém. Deve-se-lhe também a fundação do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. Já em vida o povo lhe chamava Rainha Santa pela ajuda que dava aos mais necessitados e fazia circular diversas lendas. Foi canonizada em 1625 pelo papa Urbano VIII.
Cognominado "o Bravo", foi o sétimo rei de Portugal, reinando de 1325 a 1357.
Filho de D. Dinis e de D. Isabel de Aragão, nasceu em Lisboa a 8 de Fevereiro de
1291, casou em 1309 com D. Beatriz, filha de Sancho IV de Castela e da rainha D.
Maria, e faleceu, também em Lisboa, a 28 de Maio de 1357.
Por não suportar a predilecção de D. Dinis por D. Afonso Sanches (filho bastardo
de D. Dinis, mas mais velho que o herdeiro da Coroa) e temendo que este lhe
roubasse o trono, revoltou-se, ainda infante, contra seu pai, tendo lançado por
diversas vezes o reino na guerra civil. Subiu ao trono em 1325, por morte de D.
Dinis, e logo convocou Cortes para Évora, onde manteve a decisão de desterro e
perda de todos os haveres para o meio-irmão. D. Afonso Sanches invadiu Portugal
e só pela mediação de D. Isabel foi conseguida a paz entre os dois irmãos.
D. Afonso IV declarou guerra a D. Afonso XI de Castela, seu genro, devido aos
maus tratos que este infligia a D. Maria sua esposa e ainda porque este reteve
em Castela D. Constança, esposa do sucessor ao trono de Portugal. A ameaça
muçulmana levou os dois monarcas a assinarem a paz, tendo os exércitos cristãos
derrotado os Mouros na célebre batalha do Salado, em 30 de Outubro de 1340.
D. Afonso IV empenhou-se também em impulsionar a marinha, tendo sido no seu
reinado realizadas as primeiras viagens às Canárias.
O final do seu reinado foi, contudo, perturbado com alguns problemas; em 1343
houve no reino grande carestia de cereais, em 1347 ocorreu um sismo que abalou
Coimbra, tendo causado enormes prejuízos, e em 1348 a peste negra, vinda da
Europa, assola o País. De todos os problemas foi a peste o mais grave, vitimando
grande parte da população e causando grande desordem no reino. O rei reagiu
prontamente, tendo promulgado legislação a reprimir a mendicidade e a
ociosidade.
Um outro facto marcou ainda o final do reinado de D. Afonso IV: foi ele o
assassínio de D. Inês de Castro. Este facto provocou a rebelião de D. Pedro, que
declarou guerra a seu pai. Em 15 de Agosto de 1356 assinou o príncipe um acordo
em Canaveses onde se comprometia a esquecer o passado e a perdoar aos
intervenientes na luta.
O Bravo
7.º Monarca
Reinado: 1325 - 1357
1291 - Nascimento de D. Afonso em Lisboa.
1309 - Casamento de D. Afonso com D. Beatriz de Castela.
1325 - Coroação sob o título de D. Afonso IV.
1340 - Batalha do Salado que leva os exércitos portugueses e castelhanos a
lutarem juntos contra os Mouros, em defesa de Castela e da Península.
1344 - A posse das Canárias passa para Castela.
1348 - Peste Negra: calamidade que provoca a morte de cerca de um terço da
população portuguesa.
1354 - Transferência da Universidade para Coimbra.
1355 - Condenação à morte de D. Inês de Castro.
1357 - Morte de D. Afonso IV.
Mãe de D. Pedro I (1293-1359), filha dos reis de Castela D. Sancho IV e D. Maria, foi rainha de Portugal por casamento com D. Afonso IV, realizado em 1309. Em 1355, teve um papel decisivo na reconciliação de seu marido com seu filho, o futuro D. Pedro I, após o assassinato de Inês de Castro. Além de D. Pedro, teve ainda outros seis filhos.
Cognominado "o Justiceiro", foi o oitavo rei de Portugal. Quarto filho de D.
Afonso IV e de D. Beatriz de Castela, nasceu em Coimbra, a 8 de Abril de 1320, e
morreu em Estremoz a 18 de Janeiro de 1367. Casou por procuração, em 1336, com
D. Constança Manuel, filha do fidalgo castelhano D. João Manuel e de D.
Constança de Aragão. Contudo, a bênção nupcial apenas lhes foi dada em 1340, na
Sé de Lisboa, depois de D. Afonso XI de Castela ter deixado D. Constança sair do
reino. Com ela veio também para Portugal D. Inês de Castro, cuja ligação amorosa
com o infante viria a provocar forte conflito entre ele e D. Afonso IV.
Após o assassínio de D. Inês de Castro, D. Pedro revoltou-se contra o seu pai,
assolou diversas terras a norte do Douro e chegou mesmo a tentar tomar o Porto.
O acordo de paz entre D. Pedro e seu pai foi firmado em Canaveses em Agosto de
1355, tendo desde logo D. Afonso IV delegado em D. Pedro grande parte do poder.
Ficou o infante desde esta altura incumbido de, com certas reservas, exercer
justiça em todo o reino. Esta transferência de poderes
explica o facto de, ainda
infante, ter D. Pedro promulgado o beneplácito régio. Este importante decreto
proibia a divulgação no reino de quaisquer documentos pontifícios sem prévia
autorização do rei. Esta medida provocou a reacção do clero, que, nas cortes de
Elvas de 1361, solicitou a revogação do decreto. No entanto, D. Pedro
estabeleceu oficialmente o beneplácito régio, não para agravar as relações com a
Igreja mas para marcar a força do Estado.
Subiu ao trono em 28 de Maio de 1357, com 37 anos de idade. Distinguiu-se pela
aplicação da justiça, segundo Fernão Lopes "aos modos antigos", tendo sido
extremamente rigoroso na sua aplicação. Segundo o historiador Joel Serrão, "a
sua justiça não conhecia discriminações: julgava de igual modo fidalgos ou
vilãos, amigos ou inimigos." Outros estudiosos, no entanto, como é o caso de
Joaquim Veríssimo Serrão, não partilham da mesma opinião, escrevendo este
último: "É-se levado a crer que o rigor de D. Pedro incidiu em casos concretos,
no desagravo de servidores ou cidadãos prestáveis, e não teve em conta a
equidade que a justiça requer". É de destacar, ainda, um outro facto no seu
reinado, a saber, a execução dos assassinos de D. Inês de Castro, apesar de lhes
ter sido prometido perdão antes da morte de D. Afonso IV.
D. Pedro reinou durante dez anos, conseguindo ser extremamente popular, ao ponto
de dizerem as gentes «que taaes dez annos nunca ouve em Purtugal como estes que
reinara elRei Dom Pedro». Os seus restos mortais encontram-se na capela mor da
igreja do mosteiro de Alcobaça ao lado dos de D. Inês de Castro. Os seus dois
túmulos representam duas das mais belas peças da escultura portuguesa do século
XIV.
O Justiceiro
8.º Monarca
Reinado: 1357 - 1367
1320 - Nascimento de D. Pedro em Coimbra.
1336 - Casamento de D. Pedro com D. Constança Manuel.
1355 - Assinatura em Canaveses de um tratado de paz entre D. Pedro e seu pai,
após a execução de D. Inês de Castro.
1358 - Coroação sob o título de D. Pedro I.
1361 - Cortes de Elvas onde são tomadas medidas importantes a favor do povo.
O Clero solicita, em vão, a revogação da lei do Beneplácito Régio.
1367 - Morte de D. Pedro I.
Cognominado "o Formoso", foi o nono rei de Portugal e o último da primeira
dinastia, tendo reinado de 1367 a 1383. Filho de D. Pedro I e da rainha D.
Constança, nasceu em Coimbra, a 31 de Outubro de 1345, e faleceu a 22 de Outubro
de 1383. Casou entre 15 e 18 de Maio de 1372 com D. Leonor Teles (a Aleivosa),
que fora mulher de João Lourenço da Cunha.
Subiu ao trono em 1367, com 22 anos. Nesta altura, a monarquia castelhana estava
envolvida em lutas fratricidas, sendo a coroa disputada a D. Pedro, único filho
legítimo de D. Afonso XI, por seu meio-irmão D. Henrique de Trastâmara. D.
Fernando manteve inicialmente uma atitude de neutralidade. Contudo, o assassínio
de D. Pedro modificou radicalmente a posição portuguesa em relação aos
sucessores de Castela. Desta forma, visto ser bisneto de Sancho IV, D. Fernando
chegou a ser reconhecido em algumas localidades como rei de Castela. Interveio
assim D. Fernando nesse episódio peninsular da grande crise europeia que foi a
Guerra dos Cem Anos. A paz com Castela foi assinada em 31 de Março de 1371, em
Alcoutim, ficando por este acordo D. Fernando, ainda solteiro, comprometido a
casar com uma das filhas de Henrique II, a infanta D. Leonor. No entanto, D.
Fernando infringiu este acordo ao casar com D. Leonor Teles. Henrique II veio a
consentir na reforma do tratado de Alcoutim, anulando-se a cláusula do casamento
e celebrando-se novo tratado em Tui em 1372. Surgiu nesta altura o duque de
Lencastre, um dos filhos do monarca inglês, com pretensões ao trono de Castela,
para as quais procurou o apoio de D. Fernando. O apoio do rei português
consubstanciou-se, primeiro, pelo Tratado de Tagilde de 10 de Julho de 1372,
celebrado entre D. Fernando e o duque, e depois pelo Tratado de Westminster,
celebrado entre os monarcas português e inglês. Estes acordos levaram Henrique
II a invadir Portugal, onde, à falta de quem organizasse a resistência, foi
avançando, tendo chegado a Lisboa a 23 de Fevereiro de 1373. Com a intervenção
do cardeal Guido de Bolonha foi firmada a paz com Castela por vexatório tratado
celebrado em Santarém em 24 de Março de 1373.
Após a paz com Castela, dedicou-se D. Fernando à administração do reino, mandou
reparar muitos castelos e construir outros, e ordenou a construção de novas
muralhas em redor de Lisboa e do Porto. Com vista ao desenvolvimento da
agricultura promulgou a Lei das Sesmarias. Por esta lei impedia-se o pousio nas
terras susceptíveis de aproveitamento e procurava-se aumentar o número de braços
dedicados à agricultura. Durante o reinado de D. Fernando alargaram-se, também,
as relações mercantis com o estrangeiro, relatando Fernão Lopes a presença em
Lisboa de numerosos mercadores de diversas nacionalidades. O desenvolvimento da
marinha foi, por tudo isto, muito apoiado, tendo o rei tomado várias medidas
dignas de nota, tais como: autorização do corte de madeiras nas matas reais para
a construção de navios a partir de certa tonelagem; isenção total de direitos
sobre a importação de ferragens e apetrechos para navios; isenção total de
direitos sobre a aquisição de navios já feitos; etc. Muito importante, sem
qualquer dúvida, foi a criação da Companhia das Naus, na qual todos os navios
tinham que ser registados, pagando uma percentagem dos lucros de cada viagem
para a caixa comum. Serviam depois estes fundos para pagar os prejuízos dos
navios que se afundassem ou sofressem avarias.
No campo da cultura deu D. Fernando um enorme impulso à Universidade. A 3 de
Julho de 1377 ordenou a sua transferência para Lisboa e obteve do papa Gregório
XI uma bula que concedia à Universidade o direito de conferir o grau de doutor,
licenciado e bacharel em todas as faculdades autorizadas.
Por esta altura ocorreu na Igreja Católica o grande Cisma do Ocidente. Neste
contexto, D. Fernando, após hesitar, tomou partido pelo antipapa Clemente VII.
No entanto, em 19 de Agosto de 1381, terminada a paz com Castela e solicitado
pelos ingleses, passa para o partido de Urbano VI, que volta a abandonar em
1382. Declarou guerra a D. João I de Castela, tendo paralelamente iniciado
negociações com Inglaterra através de João Fernandes Andeiro. As escaramuças
iniciaram-se nos finais da Primavera de 1381 ao longo da fronteira do Alentejo.
A armada castelhana entrou no Tejo a 7 de Março e a defesa de Lisboa limitou-se
à cidade murada. Em Agosto iniciaram-se as negociações para a paz que se
concluíram logo no dia 9 desse mesmo mês, sem conhecimento dos ingleses. Entre
as cláusulas do acordo estava uma que previa o casamento da infanta D. Beatriz
com o infante D. Fernando, filho segundo do rei castelhano, cláusula que contudo
não se viria a cumprir. D. Beatriz viria a casar com o próprio D. João I de
Castela, que entretanto enviuvara. Este foi o pior resultado das três guerras de
D. Fernando com Castela, pois o seu falecimento, poucos meses depois da
assinatura do contrato de casamento, sem deixar filho varão para lhe suceder no
trono, lançou Portugal na sua primeira grande crise de sucessão, tendo mesmo
chegado a pôr em perigo a independência.
O Formoso
9.º Monarca
Reinado: 1367 - 1383
1345 - Nascimento de D. Fernando em Coimbra.
1367 - Coroação de D. Fernando.
1369 - Envolvimento de D. Fernando numa guerra com Castela, sendo esta a
primeira de uma série de três.
1370 - Criação da Companhia das Naus.
1371 - Assinatura, pela primeira vez neste reinado, de um tratado de paz com
Castela.
1372 - Casamento do rei com D. Leonor Teles.
1373 - Refirmação da paz com Castela, num tratado assinado em Santarém, com a
intervenção do cardeal Guido de Bolonha.
1375 - Publicação da Lei das Sesmarias.
1377 - Transferência da Universidade de Coimbra para Lisboa.
1383 - Morte de D. Fernando.
Rainha de
Portugal entre 1372 e 1383 pelo seu casamento com D. Fernando, nasceu na região
de Trás-os-Montes por volta de 1350 e faleceu em Valladolid em 1386. Ainda nova,
casou com João Lourenço da Cunha, de quem teve um filho. Mais tarde trava-se de
amores por D. Fernando, que obtém a anulação do casamento de Leonor Teles
invocando razões de parentesco. O povo reagiu perante esta situação,
manifestando-se contra o casamento do rei com Leonor Teles. D. Fernando reprime
violentamente os protestos e casa secretamente, em Leça do Balio, em 1372. No
ano seguinte nasce D. Beatriz, que irá casar com o rei D. João I de Castela.
Leonor Teles sempre procurou eliminar todos os obstáculos que pudessem
interferir nos seus planos, incluindo a sua irmã, Maria Teles. Quando, em 1383,
morreu D. Fernando, Leonor Teles assumiu a regência e passou a viver com o Conde
Andeiro, João Fernandes Andeiro, que o povo acusava de ser seu amante já em vida
de D. Fernando, e quando Leonor Teles, a pedido do rei de Castela, mandou
proceder à aclamação de D. Beatriz e do marido como rei de Portugal, o povo
revoltou-se, sendo acompanhado por alguns nobres e pela burguesia. Tal revolta
levou ao assassínio do Conde Andeiro e à fuga de Leonor Teles para Castela. Mas
mesmo em Castela ela teve problemas com o genro, D. João I, que a mandou
internar no Mosteiro de Tordesilhas, perto de Valladolid, onde veio a falecer.
Monarca portuguesa (c.1350-1386). Esposa de D. Fernando, foi rainha de Portugal entre 1372 e 1383. Colocou a independência portuguesa em risco quando, após a morte do rei, mandou proceder à aclamação da filha D. Beatriz, casada com D. João I de Castela.