REIS DE PORTUGAL , MONARQUIA PORTUGUESA

Segunda Dinastia


D. João I

    Filho bastardo de D. Pedro I e de Teresa Lourenço, dama galega, nasceu em 1357, em Lisboa, onde faleceu em 1433. Décimo rei de Portugal (1385-1433), foi o fundador da dinastia de Avis ou Joanina, sendo conhecido pelo cognome "de Boa Memória".
Educado por um mestre da Ordem de Cristo, foi nomeado, com apenas seis anos, Mestre da Ordem de Avis por D. Pedro I e armado cavaleiro. Durante o reinado de D. Fernando, seu meio-irmão, começa a desempenhar papéis de certo relevo, como o da negociação do casamento de D. Beatriz com o rei de Castela. A rainha D. Leonor Teles vê no Mestre de Avis um obstáculo e um adversário na sua influência sobre D. Fernando, sendo D. João considerado o chefe dos que se opõem à acção de Leonor Teles e do Conde Andeiro. Após a morte de D. Fernando, em 1383, entra-se num período de agitação e de crise na sucessão da Coroa, dado não haver herdeiro varão e D. Beatriz estar casada com o rei de Castela. Estava ainda em causa a independência nacional.
Formam-se dois partidos, um a favor e outro contra D. Beatriz como rainha de Portugal, e D. João aceita a chefia do movimento popular que luta contra a hipótese de Portugal vir a ter um rei estrangeiro. Este movimento tem o apoio da burguesia. Assim, participa no assassínio do Conde Andeiro e é proclamado "regedor e defensor do Reino". Prevendo a invasão do país por Castela, que queria impor os direitos de D. Beatriz, começa a preparar a defesa, onde se vai destacar Nuno Álvares Pereira. Segue-se um período de lutas em que se salienta a Batalha de Atoleiros e o Cerco de Lisboa, por terra e mar, em 1384, durante vários meses. Em Abril de 1385 reúnem-se as Cortes em Coimbra, onde, pela acção e grande poder oratório do Dr. João das Regras, D. João é eleito rei. A luta contra Castela e seus partidários vai continuar, e, em 14 de Agosto de 1385, obtém-se uma grandiosa vitória na Batalha de Aljubarrota, a que se segue a vitória em Valverde. Pela vitória em Aljubarrota e em cumprimento de uma promessa, D. João I manda construir o Mosteiro da Batalha, um belo exemplar da arte gótica. A luta com Castela e seus partidários vai continuar, mas mais esporadicamente, até que em 1411 se estabelece em definitivo a paz. Entretanto, em 1387, D. João I casa com D. Filipa de Lencastre, na sequência do Tratado de Windsor, celebrado com a Inglaterra. Desta união nascerá a "Ínclita Geração" - D. Duarte, Infante D. Pedro, Infante D. Henrique, D. Isabel e Infante D. Fernando, o Infante Santo.
D. João I, que subiu ao trono com o grande apoio que teve das massas populares e da burguesia, quando as lutas com Castela estabilizaram, começou uma política centralizadora do poder, reduzindo a influência do clero e da nobreza, apropriando-se dos bens dos que eram apoiantes de Castela, espaçando a reunião das Cortes, e procurando reaver algumas das terras doadas.
É no reinado de D. João I que têm início as conquistas no Norte de África e que começa a gesta dos Descobrimentos, pela acção do Infante D. Henrique. Assim, em 1415 dá-se a expedição a Ceuta, que é conquistada em 21 de Agosto. Após a sua conquista são armados cavaleiros, na mesquita daquela praça-forte, os príncipes D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique. Entretanto, na véspera da partida de Lisboa, falecera a rainha D. Filipa de Lencastre.
Após o regresso de Ceuta, o infante D. Henrique vai dar início à epopeia dos Descobrimentos. No reinado de D. João I são descobertas as ilhas de Porto Santo (1418), da Madeira (1419) e dos Açores (1427), além de se fazerem expedições às Canárias. Tem início, igualmente, a colonização dos Açores e da Madeira.
D. João I era um rei culto, dada a sua formação na Ordem de Avis, e, por isso, mandou redigir a Crónica Breve do Arquivo Nacional, mandou traduzir o Novo Testamento e vidas de santos, e escreveu o Livro da Montaria.
Em 1412 associou ao governo do reino o seu filho D. Duarte, que lhe sucederia. D. João I faleceu em 1433 e encontra-se sepultado no Mosteiro da Batalha.

O de Boa Memória
10.º Monarca
Reinado: 1385 - 1433
1357 - Nascimento de D. João em Lisboa.
1363 - É nomeado, por D. Pedro I, Mestre da Ordem de Avis e armado cavaleiro.
1380 - Nascimento de Fernão Lopes, o primeiro cronista português.
1383 - Aclamação de D. João Mestre de Avis como Regedor e Defensor do Reino.
1385 - Cortes de Coimbra onde é aclamado rei com o título de D. João I.
- Batalha de Trancoso que conduz à vitória do exército português sobre o castelhano.
- Batalha de Aljubarrota que consolida a ideia de força e valentia das tropas nacionais comandadas por D. João I e D. Nuno Álvares Pereira, o Condestável do Reino.
- Batalha de Valverde, após incursão de D. Nuno Álvares Pereira em território espanhol.
1386 - Reforço da aliança anglo-lusa através do Tratado de Windsor.
1387 - Casamento do rei com D. Filipa de Lencastre.
1388 - Início da construção do Mosteiro da Batalha, em cumprimento de um voto de D. João I pela vitória na Batalha de Aljubarrota.
1415 - O Infante D. Henrique, filho de D. João I e cognominado o Navegador, enceta a epopeia dos Descobrimentos.
- Conquista de Ceuta.
1418 - Descoberta da ilha de Porto Santo.
1419 - Descoberta do arquipélago da Madeira.
1425 - Nascimento provável de Nuno Gonçalves, pintor e retratista.
1427 - Descoberta das ilhas dos Açores.
1431 - Morte de D. Nuno Álvares Pereira, no Convento do Carmo.
1433 - Morte de D. João I.


D. Filipa de Lencastre

Mulher de D. João I e rainha de Portugal entre 1387 e 1415, nasceu em Inglaterra em 1360, filha do duque de Lencastre.
Nada se sabe da sua vida até à altura do casamento com D. João I, que se efectuou no Porto, em 2 de Fevereiro de 1387, e que é considerado ilegítimo até 1391, altura em que uma bula papal autoriza o casamento do Mestre de Avis, que era eclesiástico. Dessa união nasceram oito filhos - a "Ínclita Geração", como lhe chamou Camões -, de entre os quais se destacam D. Duarte, futuro rei, o infante D. Pedro, o das "Sete Partidas", o infante D. Henrique, "o Navegador", e D. Fernando, o "Infante Santo". Ignora-se qual o papel que teve na educação dos filhos. Apenas sabemos que manteve sempre grande ligação com a Inglaterra, vivendo rodeada, na corte, de súbditos ingleses.
Além do papel que terá desempenhado no estreitar de relações entre Portugal e a Inglaterra, parece ter exercido alguma influência sobre D. João I, com realce para o apoio à conquista de Ceuta. Era muito religiosa, por vezes fanática. Morreu de peste em 18 de Julho de 1415, na véspera da partida da expedição a Ceuta, estando sepultada no Mosteiro da Batalha.
Monarca portuguesa (1360-1415), filha do duque de Lencastre, nasceu em Inglaterra em 1360 e veio a casar-se com D. João I em 1387. Morreu de peste na véspera da partida da expedição a Ceuta.


D. Beatriz (1373-c.1409)

D. Beatriz era a primeira filha de D. Fernando e de D. Leonor Teles. Por nascimento, era, assim, a legítima herdeira do trono português.
Por várias vezes foi negociado o seu casamento, nomeadamente com o infante D. Fernando, filho segundo de D. João I, rei de Castela. No entanto, D. João I enviuvou e acabou por desposar ele próprio D. Beatriz, em 1383. Ainda nesse ano, D. Fernando faleceu e D. Leonor Teles assumiu a regência, proclamando D. Beatriz rainha de Portugal.
Esta situação não foi aceite pelo povo, que via a independência de Portugal a ser posta em causa. Em Dezembro do mesmo ano, o mestre de Aviz foi proclamado Regedor e Defensor do Reino, após revolta em Lisboa. Ainda durante esse mês, o rei de Castela, acompanhado de D. Beatriz, invadiu Portugal, juntando-se a D. Leonor Teles em Santarém. Entretanto, D. Beatriz foi atingida pela peste, o que obrigou os invasores a regressar a Castela.
Em Portugal, o mestre de Aviz foi proclamado rei (com o título de D. João I), o que não agradou aos reis de Castela. Em 1385 travou-se a célebre Batalha de Aljubarrota, onde os castelhanos foram vencidos, resolvendo-se, deste modo, a crise.
Após a morte de seu marido em 1390, D. Beatriz tentou ainda fazer valer os seus direitos em Portugal mas não o conseguiu. Acabou por falecer em 1409 ou um pouco depois.


Infante D. Pedro

    Filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, nasceu em Lisboa em 1392 e morreu na Batalha de Alfarrobeira, em 1449. O infante D. Pedro é considerado um dos príncipes mais cultos do seu tempo.
Com seus irmãos D. Duarte e D. Henrique, participou, em 1415, na conquista de Ceuta, sendo encarregado de organizar a frota das gentes do Sul. Com eles foi armado cavaleiro, por seu pai D. João I, na mesquita de Ceuta, após a conquista. No regresso, D. João I doou-lhe o ducado de Coimbra e outros senhorios. Desejoso de conhecer novos mundos e ávido de outros conhecimentos e sentindo-se desaproveitado, entre 1418 e 1428 vai percorrer a Europa até à Palestina, ficando conhecido pelo cognome de "Príncipe das Sete Partidas". Nesse período vai participar na luta contra os Hussitas e os Turcos. Regressa desta longa viagem em 1428, indo para o seu ducado de Coimbra, aí fixando residência, dedicando-se à agricultura e ao estudo, e casando em 1429 com D. Isabel. O infante D. Pedro era contrário à continuação das conquistas no Norte de África, embora viesse a colaborar na expedição a Tânger, de maus resultados. Por outro lado, era a favor da exploração marítima, tendo procurado, durante as suas viagens, recolher todos os elementos que pudessem ajudar seu irmão, o infante D. Henrique, na tarefa dos Descobrimentos.
Com a morte do irmão, o rei D. Duarte, em 1438, fica como regente a rainha D. Leonor, pois o herdeiro, D. Afonso V, ainda era menor. Mas dada a oposição popular, nas Cortes de 1439 foi nomeado o infante D. Pedro como regente do reino, ficando ao mesmo tempo encarregue da educação do futuro rei D. Afonso V e sendo D. Leonor desterrada para Castela. Durante a sua regência, D. Pedro procede à reforma da Universidade, fomenta a expansão marítima e avança com a reforma administrativa, publicando as Ordenações Afonsinas (1446).
Em 1446, D. Afonso V atinge a maioridade e assume o poder, mas mantém o tio, o infante D. Pedro, ao seu lado, vindo a casar com a filha dele, D. Isabel, em 1447. Mas parte da nobreza, sobretudo seu irmão bastardo D. Afonso, intriga e conspira contra D. Pedro, o que leva ao seu afastamento da corte, em 1448, regressando a Coimbra. Mas as intrigas continuam, o que originou o confronto entre as duas partes, na Batalha de Alfarrobeira, em que o infante D. Pedro vem a ser morto.
Como marca da sua grande cultura conhecem-se várias cartas de grande valor histórico. D. Pedro escreveu ainda o tratado da Virtuosa Benfeitoria e traduziu várias obras de Cícero, Séneca e Virgílio.


Infante D. Henrique

    Quinto filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, nasceu no Porto, em 1394, e morreu em Sagres, em 1460. Toda a sua figura está envolta em algum mistério e muita contradição.
Como todos os seus irmãos, a "Ínclita Geração", teve uma elevada educação. Participou, em 1415, na conquista de Ceuta, estando encarregado de organizar a frota com as gentes do Norte. Após a conquista, foi armado cavaleiro, na mesquita de Ceuta, por D. João I, seu pai, juntamente com seus irmãos D. Duarte e D. Pedro. No regresso, foi-lhe doado o ducado de Viseu. Em 1416, D. João I encarrega-o dos negócios de Ceuta e da defesa marítima da costa algarvia contra os ataques dos piratas mouros. E em 1417 é nomeado Mestre da Ordem de Cristo, de cujos recursos se vai servir para a grande empresa marítima.
As motivações e os objectivos das navegações que ordenou têm sido muito discutidas e muito diferenciadas. O que não há dúvida é que o infante D. Henrique foi o condutor da expansão ultramarina, com as motivações e os objectivos a terem uma evolução natural. As primeiras navegações chegam a Porto Santo (1419) e Madeira (1420), que logo procura colonizar, pois um dos motivos é o económico, isto é, ter acesso às matérias-primas (como o ouro do Sudão), abastecer o reino dos bens que lhe faltam (como os cereais) e desviar as rotas comerciais africanas a favor de Portugal. A estes motivos teremos de juntar o político, com a posse de novos domínios, ao mesmo tempo que se alargam os horizontes de intervenção da nobreza, e o religioso, inserido numa época em que os Turcos eram uma ameaça para a Europa e em que se falava na existência de um reino cristão em África, a Terra do Preste João, e que se queria atingir contornando a África.
Para que tal empresa fosse possível, o infante D. Henrique instala-se em Lagos, procura rodear-se de cartógrafos e de gente experimentada na navegação, e procura obter o máximo de informações acerca das terras a demandar e dos novos conhecimentos de navegação. A partir de 1422 o Infante envia todos os anos barcos a explorar a costa africana, estudando os ventos e correntes e as novas formas de navegação no mar alto. Em 1426 passa-se o Cabo Não e em 1427, no regresso de uma viagem, levados pelo vento, os navegadores chegam à parte oriental dos Açores, cujas ilhas logo vão ser povoadas. Vão-se aperfeiçoando os instrumentos náuticos, como o astrolábio e o quadrante, bem como cartas de marear mais perfeitas. Finalmente, em 1434, Gil Eanes passa o Cabo Bojador, pondo fim à lenda do Mar Tenebroso e abrindo novas perspectivas ao avanço das navegações, que vão prosseguir em grande ritmo. Atinge-se Arguim, a foz do Senegal, Guiné e Serra Leoa, ainda em vida do Infante.
Mas o infante D. Henrique não está alheado de outros acontecimentos nacionais: em 1431 é nomeado protector da Universidade de Lisboa, onde vai reorganizar os estudos, introduzindo o estudo da Matemática e da Astronomia; participa na trágica expedição a Tânger (1437), na conquista de Alcácer Ceguer (1457), bem como na crise entre seu irmão D. Pedro e o sobrinho D. Afonso V, que culminou na batalha de Alfarrobeira (1449).
Ao mesmo tempo, o infante D. Henrique trata da defesa dos interesses portugueses junto do Papa, pedindo bulas que outorgavam a posse das ilhas e territórios entretanto descobertos.
O infante D. Henrique é uma das figuras mais marcantes da nossa História, sendo igualmente uma figura da humanidade.


Infante D. Fernando (1402-1443)

    Oitavo e último filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, nasceu em Santarém em 1402. Teve, como seus irmãos, a "Ínclita Geração", uma grande cultura, tendo recusado, em 1436, ser nomeado cardeal. Foi Mestre da Ordem de Avis.
Desejoso de acção, o infante D. Fernando e seu irmão, o infante D. Henrique, convenceram o rei D. Duarte, irmão de ambos, a fazer a expedição a Tânger, em 1437, que resultou num fracasso para a parte portuguesa. A expedição fora mal organizada, com forças pouco numerosas e com fraco armamento. Os Mouros, em maior número, cercaram as tropas portuguesas e destroçaram-nas, fazendo muitos prisioneiros. Como condição para libertar os portugueses, entre eles o infante D. Henrique, os Mouros impõem as suas condições: restituição de Ceuta; paz entre Portugal e Marrocos; o infante D. Fernando ficava como refém, como garantia do cumprimento das condições anteriores.
Reunidas as Cortes em Torres Novas, em 1438, deliberou-se não ceder às condições impostas pelos Mouros, não entregando Ceuta, sendo o infante D. Henrique um dos que se opuseram a essa cedência, o que condenava o infante D. Fernando ao cativeiro. Foram feitas várias tentativas para a sua libertação, que resultaram infrutíferas. Assim, o infante D. Fernando continuou prisioneiro dos mouros, sofrendo maus tratos e as maiores privações, vindo a falecer no cativeiro, em Fez, em 1443. Dado todo o sofrimento por que passou, ficou conhecido pelo cognome de "Infante Santo".


D. Duarte

    Filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, nasceu em Viseu em 1391 e faleceu em Tomar em 1438, vítima da peste. Décimo primeiro rei de Portugal (1433-1438), é conhecido pelo cognome de "o Eloquente". Casou com D. Leonor de Aragão em 1428.
D. Duarte subiu ao trono em 1433, após a morte do pai, mas já desde 1412 que D. João I o associara ao governo do reino. D. Duarte vai dar continuidade à acção centralizadora de D. João I. Logo em 1434 reúne Cortes em Santarém, onde é promulgada a Lei Mental, assim chamada por já andar na mente de D. João, e que é um instrumento de centralização. Determinava que os bens doados pela coroa só podiam ser herdados pelo filho varão primogénito, o que permitiu à Coroa reaver muitas terras.
A nível interno, D. Duarte mandou proceder à compilação de toda a legislação do reino, que só estará concluída no reinado de D. Afonso V, daí ter o nome de Ordenações Afonsinas. D. Duarte reuniu Cortes mais três vezes apesar do seu curto reinado: em Évora, em 1435 e em 1436, e em Leiria, em 1438.
A expansão marítima prossegue no reinado de D. Duarte, sob a influência do Infante D. Henrique. Neste domínio destaca-se Gil Eanes, que, em 1434, dobra o Cabo Bojador, um ponto lendário da época e que tanto terror causava aos marinheiros. Daí avança-se para Angra dos Ruivos, em 1435, e Afonso Baldaia, em 1436, atinge o Rio do Ouro e Pedra da Galé.
Outro vector político dominante deste reinado relacionou-se com a conquista do Norte de África. D. Duarte tinha participado na conquista de Ceuta, em 1415, onde foi armado cavaleiro. Já como rei, hesita em prosseguir essa política, mas é pressionado para a continuar, principalmente pelos seus irmãos D. Henrique e D. Fernando. Faz então os preparativos para a expedição a Tânger, tendo sido debatido, nas Cortes de Évora de 1436, um empréstimo para essa expedição. E em Outubro de 1437 dá-se o ataque a Tânger, que resulta num grande fracasso. Os portugueses obtêm uma trégua para retirarem, sob a condição de devolverem Ceuta aos Mouros, tendo ficado prisioneiro, como refém, o infante D. Fernando. As condições impostas pelos Mouros foram debatidas nas Cortes de Leiria de 1438, tendo sido rejeitadas. Assim, D. Duarte teve de sacrificar o irmão (que morreu no cativeiro em 1443) aos interesses da Nação, o que muito o afectou.
D. Duarte era um homem culto, como o comprova no seu Leal Conselheiro, um tratado de sabedoria da época, que revela conhecimento dos clássicos e dos doutores da Igreja e em que se nota uma grande pureza vocabular. Escreveu também a Arte de Bem Cavalgar Toda a Sela.
D. Duarte vem a morrer em Tomar, em 1438, vítima da peste, e jaz no Mosteiro da Batalha. Como o futuro rei, Afonso V, ainda era menor (tinha 6 anos), D. Duarte, por testamento, deixa o poder à rainha D. Leonor, até que aquele atinja a maioridade. No entanto, tal originou uma série de conflitos entre os partidários de D. Leonor e os do Infante D. Pedro (irmão de D. Duarte), que culminará na batalha de Alfarrobeira.

O Eloquente
11.º Monarca
Reinado: 1433 - 1438
1391 - Nascimento de D. Duarte em Viseu.
1428 - Casamento de D. Duarte com D. Leonor de Aragão.
1433 - Coroação de D. Duarte.
1434 - Publicação da Lei Mental.
- Passagem do cabo Bojador, por Gil Eanes.
1437 - Desastre de Tânger durante o qual o infante D. Fernando é feito prisioneiro.
1438 - Morte de D. Duarte.


D. Leonor de Aragão

    Filha de D. Fernando I, rei de Aragão e da Sicília, foi rainha de Portugal através do seu casamento com D. Duarte. O contrato de casamento foi celebrado em 1427, na aldeia aragonesa de Olhos Negros, e o matrimónio teve lugar no ano seguinte. D. Leonor recebeu de D. Duarte 30 000 florins de ouro de Aragão, bem como as terras e rendimentos que tinham pertencido à rainha D. Filipa de Lencastre. Por parte do rei de Aragão, coube-lhe um dote de 200 000 florins.
D. Leonor mostrou-se favorável à expansão portuguesa no Magrebe, estando, dessa forma, de acordo com o infante D. Henrique e outros senhores do reino. Como eles, fez pedidos a seu marido para que a expedição a Tânger fosse possível. Assim, foi a pedido de sua mulher que D. Duarte requereu ao papa a bula de cruzada.
Após a morte do monarca, em 1438, a regência foi confiada a D. Leonor, nos termos do testamento de D. Duarte. Tal situação manteve-se até Dezembro do ano seguinte. A partir desta data, os acontecimentos sucederam-se, sendo o governo do reino entregue ao infante D. Pedro e entrando-se em seguida na primeira fase do reinado de D. Afonso V.
Em 1440-1441, D. Leonor tentou ainda retomar o governo, mas viu-se obrigada a regressar a Espanha devido à força militar empregue por D. Pedro. Aí veio a morrer, envenenada, em 1445.


Infante D. João

    Nobre português (1400-1442), era filho de D. João I e D. Filipa de Lencastre. Foi designado mestre da Ordem de Santiago de Espada em 1418, cumprindo a função com notado escrúpulo. Parece ter tido um posicionamento cauteloso quanto às vantagens de prosseguir as conquistas marroquinas. Nas Cortes de Leiria de 1438, aliás, pronunciou-se a favor da entrega de Ceuta para resgate do infante D. Fernando, seu irmão.


D. Afonso V

    Filho de D. Duarte e de D. Leonor de Aragão, nasceu em 1432 em Sintra, onde também faleceu em 1481. Décimo segundo rei de Portugal (1438-1481), é conhecido pelo cognome de "o Africano".
No reinado de D. Afonso V podemos demarcar bem três períodos. O primeiro vai desde a morte de seu pai (1438), D. Duarte, até à Batalha de Alfarrobeira (1449). Quando seu pai morreu, D. Afonso V tinha apenas 6 anos. Por testamento, ficou na regência a rainha D. Leonor, sua mãe, mas, como era estrangeira, tal facto não foi bem aceite pela burguesia e pelo povo, que preferia como regente o Infante D. Pedro, irmão de D. Duarte. A oposição entre as duas partes gera um período conturbado. D. Leonor é regente até às Cortes de 1439, em que o infante D. Pedro é eleito regente e D. Leonor é obrigada a exilar-se para Castela. Ao mesmo tempo, a educação de D. Afonso fica a cargo de seu tio, que era homem de grande cultura, conhecido como o "Infante das Sete Partidas" pelas inúmeras viagens que fez. D. Afonso terá assim uma esmerada educação humanística.
Quando, em 1446, atinge a maioridade, realizam-se as Cortes de Lisboa e D. Afonso assume o governo do Reino, ainda que auxiliado pelo tio. Mas as intrigas de alguns nobres e elementos do clero vão turvar as relações entre D. Afonso e o tio, pelo que o rei dispensa os serviços deste em 1448. Mais tarde, em 1449, marcha contra o tio, enfrentando-o na Batalha de Alfarrobeira, que o Infante D. Henrique tentou evitar e onde D. Pedro é morto.
Entretanto, em 1447, D. Afonso V casara com sua prima D. Isabel, filha do Infante D. Pedro, de quem tem três filhos, entre eles a Infanta D. Joana e o futuro rei D. João III. A rainha vem a morrer em 1455.
Após a morte do infante D. Pedro, a alta nobreza e o alto clero fazem sentir cada vez mais a sua influência, havendo um recuo na acção centralizadora.
O segundo período do reinado caracteriza-se pelas campanhas no Norte de África, das quais advirá o cognome do monarca.
Em 1453 dá-se a queda de Constantinopla e o papa Calisto III, em 1456, apela a uma cruzada, a que D. Afonso V responde preparando um grande exército. Frustrada esta missão, D. Afonso retoma a campanha de África, parada desde a tragédia de Tânger, e, em 1458, toma Alcácer Ceguer, acabando finalmente por conquistar Tânger e Arzila, após vários fracassos, em 1471, e Larache. O seu título passa a ser "rei de Portugal e dos Algarves, de aquém e de além-mar em África".
A acção vitoriosa em África sofre então uma interrupção, pois D. Afonso V dá um outro rumo à sua acção política. Entramos assim no último período, que é orientado para a política peninsular. D. Afonso entra na luta pelo trono de Castela, vago pela morte de Henrique IV, que estava casado com D. Joana de Portugal, sua irmã, e que vai redundar num grande fracasso. Estava em causa o direito à sucessão de sua sobrinha D. Joana, a Beltraneja, contra a reivindicação dos futuros Reis Católicos, Fernando e Isabel. Como D. Afonso V era viúvo, planeava casar com a sobrinha e assim unir os reinos de Portugal e Castela. Entre várias escaramuças dá-se a Batalha de Toro, em 1476, que lhe é desfavorável. Não podendo impor-se pelas armas, D. Afonso V desiste e, em 1479, celebra o Tratado de Alcáçovas, em que renuncia a quaisquer direitos à coroa de Castela e reconhece como reis de Castela os seus adversários.
Outros factos importantes aconteceram durante o seu reinado. Assim, em 1446 são publicadas as Ordenações Afonsinas, que são a primeira compilação das leis do Reino e cujo trabalho começara já no reinado de D. Duarte.
A acção dos Descobrimentos continuou igualmente no reinado de D. Afonso V, primeiro ainda sob a acção do infante D. Henrique, até 1460, ano da sua morte. Logo em 1439, o infante D. Henrique mandou povoar as ilhas dos Açores. Assim, Nuno Tristão atinge, em 1441, o Cabo Branco, em 1443, a baía de Arguim e, em 1444, a foz do Rio Senegal. Em 1456, são descobertas as ilhas do arquipélago de Cabo Verde e, em 1460, ano da morte do infante D. Henrique, atinge-se a Serra Leoa e as terras da Guiné.
Em 1469, D. Afonso V concede o comércio da Guiné a Fernão Gomes, com a condição de descobrir todos os anos 100 léguas de costa, o que o levaria até à costa da Mina. Em 1471, descobre-se S. Tomé, Príncipe, Ano Bom. Em 1472, Álvaro Esteves passa o equador. Em 1474, João Vaz Corte Real chega à Terra Nova.
Em 1476, ainda no período das lutas pela coroa de Castela, o soberano entregou o governo do reino ao príncipe D. João e futuro rei, que assim conseguiu pôr cobro à liberalidade de D. Afonso V.
D. Afonso V morreu em 1481 e jaz no Mosteiro da Batalha.

O Africano
12.º Monarca
Reinado: 1438 - 1481
1432 - Nascimento de D. Afonso em Sintra.
1438 - Após a morte de D. Duarte, D. Leonor assume a regência do reino.
1439 - Eleição do infante D. Pedro como regente.
D. Leonor exila-se em Castela.
- O infante D. Henrique manda povoar as sete ilhas dos Açores.
1446 - Cortes de Lisboa onde D. Afonso é coroado sob o título de D. Afonso V.
- Publicação das Ordenações Afonsinas.
1447 - Casamento do rei com D. Isabel.
1449 - Batalha de Alfarrobeira entre D. Afonso V e D. Pedro, resultando na morte deste.
1456 - Descoberta dos arquipélagos de Cabo Verde e Bijagós.
1458 - Conquista de Alcácer Ceguer.
1460 - Descoberta da serra Leoa e de terras da Guiné.
1471 - Conquista de Arzila e ocupação de Tânger.
D. Afonso V passa a usar o título de "Rei de Portugal e dos Algarves, de aquém e além-mar, em África".
1476 - Batalha de Toro onde o rei português é derrotado pelo exército castelhano.
1479 - Assinatura do Tratado de Alcáçovas em que é firmada a paz com Espanha.
1481 - Morte de D. Afonso V.


Infante D. Fernando (1433-1470)

    Nobre português (1433-1470), era filho de D. Duarte e foi um dos protagonistas das campanhas marroquinas que marcaram o reinado de D. Afonso V, seu irmão, destacando-se, nomeadamente, na conquista de Alcácer Ceguer e Anafé. Foi condestável e mestre das ordens militares de Cristo e de Santiago. A sua casa senhorial era da maior importância, fosse pelas possessões adquiridas por mérito próprio, fosse pela herança deixada por seu tio, o infante D. Henrique, que o adoptou como filho. Foi pai de D. Manuel I e de D. Leonor, que seria esposa de D. João II.


D. João II

    Filho de D. Afonso V e de D. Isabel, nasceu em Lisboa em 1455 e faleceu, no Alvor, em 1495. Décimo terceiro rei de Portugal (1481-1495), é conhecido pelo cognome de "Príncipe Perfeito". Casou com sua prima, D. Leonor.
Ainda em vida do pai, D. Afonso V, participou, em 1471, na conquista de Arzila, onde foi armado cavaleiro. Em 1475, o pai atribui-lhe a regência do Reino, durante a sua ausência aquando da luta pela sucessão ao trono de Castela. Acaba por participar na Batalha de Toro, em auxílio de D. Afonso V. Em 1476, quando D. Afonso V viaja para França em busca de auxílio para a sua causa, fica novamente com a regência e, em 1477, chega a ser aclamado rei em Santarém, face à abdicação de seu pai, que não se chegou a efectivar, devolvendo D. João a governação a D. Afonso V. Mas, na realidade, foi D. João quem continuou a governar de facto no que se refere às descobertas, de que já se ocupava desde 1474, domínio em que lutou contra a ingerência castelhana, defendendo a exclusividade da navegação na costa africana - política do mare clausum -, tendo celebrado com Castela, em 1480, o Tratado de Toledo, em que dividia o Atlântico pelo paralelo das Canárias. Em 1481, com a morte de D. Afonso V, é aclamado rei de Portugal.
No plano interno, D. João II vai lutar pela centralização do poder e contra o poderio da nobreza, em especial contra a Casa de Bragança, logo em 1481, nas Cortes de Évora. Daí nasce uma série de intrigas e conspirações que D. João II reprime com violência, como aconteceu com a execução pública do duque de Bragança e com o apunhalamento pelo próprio rei do duque de Viseu, irmão da rainha D. Leonor. Esta repressão faz com que outros nobres fujam para o exílio, o que diminuiu o poder da nobreza, permitindo à realeza recuperar inúmeras terras e centralizar o poder. Pelo mesmo motivo, só reuniu Cortes mais três vezes: em 1482 e 1483, em Santarém, e, em 1490, em Évora, estas para o rei pedir um empréstimo. No seu reinado a Corte vai-se tornando mais sedentária, deixando o rei de andar tanto pelo país.
Quanto à expansão ultramarina, D. João já se encarregava das descobertas no tempo de seu pai, desde 1474. No seu reinado vai ficar explorada toda a costa ocidental africana, empreendimento em que sobressaem Diogo Cão e Bartolomeu Dias, que vai dobrar o Cabo das Tormentas, depois chamado da Boa Esperança. Ao mesmo tempo, D. João trata do povoamento de algumas ilhas no Golfo da Guiné (S. Tomé, Ano Bom, Fernão do Pó) e manda edificar o Castelo de S. Jorge da Mina, para apoiar o tráfico da Guiné.
O monarca começou a preparar a grande viagem até à Índia, tentando obter o máximo de informações sobre essas paragens. Para isso, mandou vários emissários por terra, entre os quais sobressaem Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva, que vão por terra pelo Cairo, Adém, Ormuz, Sofala e Abissínia, a terra do lendário Preste João, donde enviam relatórios sobre essas paragens, ficando D. João II com a certeza de poder atingir a Índia por mar. Entretanto dá-se a morte do herdeiro da coroa, D. Afonso, o que abate o rei, e Cristóvão Colombo faz a descoberta da América, pensando ter atingido a Índia. D. João II vai reivindicar a posse dessas terras, nos termos do Tratado de 1480. Seguem-se negociações, com intervenção do Papa, que acabam com a assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1494, em que se determina que a linha de meridiano 370 léguas a oeste da Ilha de Santiago, Cabo Verde, dividia a Terra nas duas zonas de influência de Portugal e Espanha. Como esta linha faz com que o Brasil fique na zona portuguesa, tal facto tem levado a supor que D. João II já sabia da existência das terras do Brasil. Este Tratado oficializa a doutrina do mare clausum e vai permitir o avanço para a Índia sem a concorrência da Espanha, objectivo que D. João II já não pôde alcançar.
O reinado de D. João II, quanto a política externa, caracteriza-se pela preocupação em criar boas relações com vários reinos, como Castela, França, Inglaterra e Roma, para que a política ultramarina não fosse posta em causa. É de destacar ainda a embaixada enviada a Roma em 1485.
Os últimos anos de D. João II são afectados pelo problema da sucessão ao trono. O único filho legítimo era o infante D. Afonso, que veio a falecer, num acidente, em 1491. O rei tinha um filho bastardo, D. Jorge, que D. João II tentou que fosse o herdeiro, mas a rainha D. Leonor opunha-se, indicando o nome de D. Manuel, duque de Beja, seu irmão. Entretanto, o rei adoece e finalmente acede, em testamento, a nomear D. Manuel como herdeiro, vindo a falecer pouco depois, em 1495. Jaz no Mosteiro da Batalha.

O Príncipe Perfeito
13.º Monarca
Reinado: 1481 - 1495
1455 - Nascimento de D. João em Lisboa.
1465 - Nascimento provável de Gil Vicente, o criador do teatro português.
1471 - Participação na conquista de Arzila.
- Casamento de D. João com D. Leonor.
1476 - Participação na Batalha de Toro.
1480 - Celebração do Tratado de Toledo.
1481 - Coroação sob o título de D. João II.
- Cortes de Évora onde D. João II inicia uma luta contra o poderio da nobreza, defendendo a centralização do poder.
- Introdução da imprensa em Portugal.
1484 - Chegada de João Afonso de Aveiro ao Benim, no interior do continente africano.
- Diogo Cão atinge a foz do Rio Zaire e descobre, a seguir, a costa africana até à serra Parda.
- Começam a erigir-se "padrões" nas terras conquistadas com o intuito de se afirmar o domínio português.
1485 - Cristóvão Colombo apresenta a D. João II os seus planos de viagem até à Índia, que os rejeita.
- A rainha D. Leonor manda construir o hospital termal das Caldas da Rainha, criando treze anos mais tarde, a Misericórdia de Lisboa.
1487 - Preparativos da viagem à Índia por parte de D. João II enviando, por terra, vários emissários para recolha de informações.
1488 - Bartolomeu Dias dobra o cabo das Tormentas, rebaptizado pelo rei como cabo da Boa Esperança.
1492 - Cristóvão Colombo descobre a América.
1494 - Tratado de Tordesilhas que prevê a partilha das terras descobertas por Portugal e Espanha.
1495 - Morte de D. João II.


D. Manuel I

    Filho do infante D. Fernando, irmão de D. Afonso V, e de D. Brites, nasceu em Alcochete em 1469 e faleceu em Lisboa em 1521. Décimo quarto rei de Portugal (1495-1521), é conhecido pelo cognome de "o Venturoso". Casou três vezes. Primeiro, em 1497, com D. Isabel, filha dos Reis Católicos e viúva do príncipe D. Afonso, filho de D. João II. Com a morte de D. Isabel, de parto, casou pela segunda vez, em 1500, com a infanta D. Maria de Castela, irmã de D. Isabel. Deste casamento nasceram vários filhos, entre eles D. João, o futuro rei, e D. Beatriz, duquesa de Sabóia. Viúvo novamente, casou, em 1518, com a infanta D. Leonor, irmã de Carlos V.
D. Manuel subiu ao trono em 1495, após a morte de D. João II, seu cunhado, de acordo com o testamento do falecido rei. Tal ficou a dever-se à morte do único filho legítimo de D. João, o príncipe D. Afonso, e à não aceitação de legitimação de um filho bastardo de D. João. Foi ainda possível porque tinham morrido os outros irmãos mais velhos de D. Manuel.
No plano interno, D. Manuel I vai continuar a centralização do poder, mas de uma maneira mais sensata que D. João II. Logo nas Cortes de Montemor-o-Novo, no início do seu reinado, foram tomadas medidas que vão nesse sentido, como mandar confirmar as doações feitas, os privilégios e cartas de mercê; reformou os tribunais superiores. Por outro lado, só reuniu Cortes mais três vezes: em 1498, em 1499 e em 1502.
Em 1496, obriga todos os judeus e mouros que não quisessem baptizar-se a sair do país no prazo de dez meses, sob pena de confisco dos bens e condenação à morte.
Como as Ordenações Afonsinas estavam já desactualizadas, o rei mandou proceder a nova compilação das leis. Assim, entre 1512 e 1531, são publicadas as Ordenações Manuelinas. D. Manuel procede também à reforma dos forais, bem como da sisa e dos direitos alfandegários.
No que respeita à política ultramarina, quando sobe ao trono, em 1495, tinha-se dobrado já o Cabo da Boa Esperança e preparava-se a viagem marítima que levaria os portugueses até à Índia. D. Manuel deu continuidade a esses preparativos e em 5 de Julho de 1497 partia de Lisboa uma armada chefiada por Vasco da Gama, que atingiu Calecut em 20 de Maio de 1498. Estava consumada a descoberta do caminho marítimo para a Índia. Em 1500 manda D. Manuel uma outra armada à Índia, comandada por Pedro Álvares Cabral, que, desviando a rota mais para sudoeste, acaba por atingir as costas da Terra de Vera Cruz. Estava descoberto o Brasil, que se encontrava ainda nos nossos limites do Tratado de Tordesilhas, o que leva a supor que D. João II já tinha conhecimento destas terras aquando da assinatura do Tratado.
D. Manuel decide enviar todos os anos uma armada à Índia, não só para consolidar o domínio português no Oriente como para ajudar na luta contra os inimigos dos portugueses naquelas paragens. Para poder impor a nossa presença, D. Francisco de Almeida foi para a Índia como vice-rei, tentando manter o monopólio da navegação e do comércio português na área, com certos apoios em terra, sendo Cochim o respectivo centro. Sucede-lhe Afonso de Albuquerque, que conquistou Goa, transformada então em capital do Estado da Índia, e manda proceder à exploração de outras terras daquelas paragens, chegando a Timor.
No reinado de D. Manuel fizeram-se também viagens para ocidente, tendo-se atingido a Gronelândia e Labrador. No Norte de África prosseguiram algumas conquistas, como Safim e Azamor.
Nas relações com os outros países, o rei tentou usar da maior habilidade e diplomacia, procurando manter-se neutral e não se envolvendo nas lutas do seu tempo. Ficou célebre, pelo seu fausto, uma comitiva que enviou ao papa Leão X em 1513.
A nível cultural, D. Manuel procedeu à reforma dos Estudos Gerais, criando novos planos de estudo e bolsas de estudo. É nesta época que surge o estilo manuelino, com motivos inspirados no mar e nas grandes viagens, em monumentos como o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém. É na sua Corte ainda que surge Gil Vicente.
D. Manuel vem a falecer em 1521, estando sepultado no Mosteiro dos Jerónimos.

O Venturoso
14.º Monarca
Reinado: 1495 - 1521
1469 - Nascimento de D. Manuel em Alcochete.
1475 - Provável nascimento do pintor Grão Vasco.
1495 - Coroação sob o título de D. Manuel I, após a morte de seu primo e cunhado D. João II.
1496 - Expulsão dos judeus e mouros que se recusam a converter à religião cristã.
1497 - Casamento do rei com D. Isabel.
- Partida do Restelo da armada comandada por Vasco da Gama para o descobrimento do caminho marítimo para a Índia.
1498 - Chegada da frota de Vasco da Gama à Índia.
1499 - Regresso de Vasco da Gama a Lisboa.
1500 - Casamento do rei com D. Maria de Castela.
- Descobrimento oficial do Brasil por Pedro Álvares Cabral.
- Nascimento provável de Garcia de Orta, médico e naturalista.
1502 - Início da construção do Mosteiro dos Jerónimos.
- Nascimento provável de Pedro Nunes, cosmógrafo e matemático.
1511 - Conquista de Malaca por Afonso de Albuquerque.
1512 - Publicação das Ordenações Manuelinas.
1514 - Início da construção da Torre de Belém.
1516 - Ocupação de Timor.
1518 - Casamento do rei com a infanta D. Leonor.
1519 - Fernão de Magalhães enceta a primeira viagem de circum-navegação, ao serviço do rei Carlos V de Espanha.
1521 - Morte de D. Manuel I.


D. Leonor (1458-1525)

    Prima e esposa de D. João II, a rainha D. Leonor pertencia à mais alta nobreza da época: era filha dos infantes D. Fernando e D. Beatriz, neta materna do infante D. João, filho legítimo de D. João I e da infanta D. Isabel, e neta paterna do rei D. Duarte e da rainha D. Leonor de Aragão.
Esteve envolvida nos jogos de poder de importantes casas senhoriais, como a de Bragança e a de Viseu. Desempenhou um papel importante no conflito que se vinha desenvolvendo desde as Cortes de Évora de 1481 e que envolvia os privilégios e benefícios da nobreza.
Ao longo da vida, D. Leonor foi-se afastando cada vez mais de D. João II. Este facto acentuou-se com a morte do seu único filho, D. Afonso, em meados de 1491. Também as tentativas feitas pelo rei para legitimar o seu filho bastardo, D. Jorge, contribuíram para o afastamento da rainha. Esta opôs-se fortemente à legitimação de D. Jorge, defendendo que deveria ser D. Manuel, duque de Beja e seu irmão, a ocupar o trono, o que veio a verificar-se.
D. Leonor é recordada pela sua acção no domínio da assistência aos necessitados. Foi ela quem criou o primeiro hospital termal nas Caldas da Rainha (sendo evocada no próprio nome da localidade) e a Misericórdia de Lisboa, cuja actuação se estendia a todo o território.
Por outro lado, D. Leonor distinguiu-se como promotora de iniciativas culturais. Foi o caso da protecção concedida a Gil Vicente e Damião de Góis, do apoio às artes e à imprensa. Dedicou-se ainda a iniciativas de carácter religioso, entre elas a fundação dos conventos da Madre de Deus e da Anunciada.


D. Afonso (1475-1491)

    Infante português (1475-1491), filho de D. João II e da rainha D. Leonor. Era o único filho legítimo de D. João II e, por isso, o herdeiro do trono. O monarca português pensava casá-lo com a filha dos Reis Católicos, operando, deste modo, a unificação política da Península Ibérica. Embora o casamento se tenha realizado, o infante morreu pouco tempo depois, vítima de um acidente em que caiu do cavalo. Coube a D. Manuel suceder a D. João II.


D. João III

    Filho de D. Manuel I e de D. Maria de Castela, nasceu em 1503 em Lisboa, onde faleceu em 1557. Décimo quinto rei de Portugal (1521-1557), é conhecido pelo cognome de "o Piedoso". Casou, em 1525, com D. Catarina de Áustria, irmã da rainha D. Leonor e de Carlos V.
D. João III teve uma educação esmerada, a cargo de humanistas, físicos e cosmógrafos de nomeada. Em 1517, estava para casar com a princesa D. Leonor de Áustria, mas esta veio a casar com D. Manuel I, que entretanto enviuvara.
Quando D. João III sobe ao trono, Portugal estava no apogeu da expansão ultramarina por vários continentes, mas também com problemas de uma grande complexidade.
A nível interno, o monarca continuou a política centralizadora e absolutista dos seus antecessores. Convocou Cortes apenas três vezes e em períodos bem espaçados: 1525, em Torres Novas; 1535, em Évora; e 1544, em Almeirim. Procurou reestruturar a vida administrativa e judicial.
No seu reinado começam a sentir-se enormes dificuldades, com crises económicas graves que obrigaram ao recurso a empréstimos estrangeiros. Agrava-se o défice comercial. Surgem fomes e epidemias.
Na política ultramarina, a extensão e dispersão do império eram um obstáculo à administração, que tinha custos enormes. Nos primeiros anos do seu reinado vão prosseguir as explorações no Extremo Oriente, chegando-se à China e ao Japão. Mas os problemas na Índia acentuam-se, com avanços e recuos. Os Turcos acentuam a sua pressão e os ataques ao monopólio comercial português. Os encargos são enormes. Assim, D. João III toma como resolução o abandono das praças de Safim, Azamor, Alcácer Ceguer e Arzila, no Norte de África. Para contrabalançar estas perdas D. João III vai avançar com a exploração e o povoamento do Brasil, primeiro pelo sistema de capitanias. Mais tarde, para melhor poder resistir aos ataques exteriores e para garantir uma melhor administração de todo o território, nomeia Tomé de Sousa governador geral.
Nas relações com países estrangeiros, o reinado de D. João III foi de uma intensa actividade diplomática. Com a Espanha, faz alianças de casamentos (D. João III com D. Catarina; D. Isabel com Carlos V; D. Maria com Filipe II, entre outros), que asseguram a paz entre os dois povos. Quanto à França, D. João III manteve-se neutral na luta entre a Espanha e a França mas firme na luta contra os ataques dos corsários franceses. Com Roma, dá-se um fortalecimento de relações com a introdução da Inquisição em Portugal, já pedida por D. João I e com a adesão do clero português à Contra-Reforma. Com a Inglaterra, intensificam-se as relações comerciais, o mesmo acontecendo com os países do Báltico e a Flandres.
No plano cultural é significativa a adesão e o apoio de D. João III à cultura humanista. Nas Letras sobressaem Gil Vicente (aquando do nascimento de D. João é representado na câmara da rainha o Auto da Visitação ou Monólogo do Vaqueiro), Garcia de Resende, Sá de Miranda, Bernardim Ribeiro, João de Barros e sobretudo Luís de Camões. Nas Ciências, Pedro Nunes e Garcia de Orta. O monarca atribui bolsas de estudo em países estrangeiros; transfere definitivamente a Universidade para Coimbra, funda colégios, alarga o ensino pelo país, apoiando os Jesuítas, que são admitidos em Portugal. Apoia também a missionação pelos vários continentes, processo em que sobressaem São Francisco Xavier no Oriente e o padre Manuel da Nóbrega no Brasil.
Um dos grandes problemas do reinado de D. João III tem a ver com a sucessão dinástica. Apesar de ter tido vários filhos, eles foram morrendo precocemente, o que punha em causa a sucessão ao trono. A partir de 1539, o sucessor era o príncipe D. João, que casa com D. Joana, filha de Carlos V. Mas o príncipe D. João vem a falecer quando a princesa estava prestes a dar à luz D. Sebastião, que nasce em Janeiro de 1554. Quando D. João III morre, em 1557, o herdeiro é o neto D. Sebastião, que tem apenas três anos de idade.
D. João III está sepultado no Mosteiro dos Jerónimos.

O Piedoso
15.º Monarca
Reinado: 1521 - 1557
1503 - Nascimento de D. João em Lisboa.
1510 - Nascimento provável de Fernão Mendes Pinto, autor de Peregrinação.
1521 - Coroação sob o título de D. João III.
1524 - Nascimento de Luís de Camões, autor de Os Lusíadas.
1525 - Casamento do rei com D. Catarina.
1532 - Colonização do Brasil segundo o sistema de capitanias.
1536 - Criação do tribunal da Inquisição em Portugal, pelo papa Paulo III.
1537 - Transferência definitiva da Universidade de Lisboa para Coimbra.
1540 - Instalação da Companhia de Jesus em Portugal.
1542 - Abandono das primeiras cidades conquistadas no norte de África.
1557 - Doação de Macau aos portugueses por parte da China, como recompensa dos serviços prestados na luta contra os piratas no mar Amarelo.
- Morte de D. João III.


D. Catarina de Áustria

    Rainha de Portugal (1507-1578) pelo seu casamento com D. João III. Era filha de Filipe I de Castela e de Joana, a Louca. Durante o reinado de seu marido, a sua acção não sobressaiu, pois teve de dedicar-se à educação dos seus nove filhos. Após a morte do marido em 1557, foi regente e dedicou-se com afinco à educação do seu neto D. Sebastião. Em fins de 1562, abandonou a regência e o cardeal D. Henrique encarregou-se do governo. Durante o reinado efectivo do seu neto, teve com ele inúmeras desavenças, acabando por se recolher no Convento de Xabregas, onde faleceu.


D. Catarina, duquesa de Bragança

    Duquesa de Bragança (1540-1614), filha do infante D. Duarte, duque de Guimarães, e da infanta D. Isabel, D. Catarina casou em 1563 com o duque D. João, tornando-se assim a 6.a duquesa de Bragança. Desempenhou um papel importante na crise da independência, após a morte de D. Sebastião, ao lutar para que lhe fossem reconhecidos os seus direitos ao trono, enviando embaixadores à França, à Inglaterra e à Santa Sé. Com a anexação de Portugal, os duques recolheram-se em Vila Viçosa. Depois da morte de D. João, D. Catarina recusou propostas de casamento do rei de Castela, reafirmando o direito do seu filho, o duque D. Teodósio, à Coroa portuguesa.


D. Sebastião

    Filho do príncipe D. João e de D. Joana de Áustria, nasceu em Lisboa em 1554 e morreu em Alcácer Quibir em 1578. Décimo sexto rei de Portugal (1557-1578), é conhecido pelo cognome de "o Desejado".
D. Sebastião herdou o trono de seu avô, D. João III, porque, apesar de este ter tido vários filhos, todos eles acabaram por falecer precocemente. Como era menor, ficou como regente sua avó D. Catarina, apesar de D. João III não ter deixado testamento mas apenas uns apontamentos em que a indicava como regente. Sua mãe, D. Joana, de acordo com o contrato nupcial, teve de regressar a Castela após a morte do príncipe D. João.
A regente D. Catarina, por influência do cardeal D. Henrique, começou por pedir ao Papa a fundação da Universidade de Évora, que entregou aos Jesuítas. Continuou a política de D. João III quanto ao Norte de África, querendo abandonar Mazagão, que, entretanto, teve de defender dos ataques mouros. Acusada de sofrer influências da Corte espanhola, pede a demissão de regente nas Cortes de Lisboa de 1562, continuando, no entanto, como tutora de D. Sebastião. Foi eleito como regente, nessa altura, o cardeal D. Henrique, tio de D. Sebastião. Nestas Cortes o povo manifestou a sua apreensão quanto à educação do rei, sobre a questão da sucessão e sobre a inalienabilidade de todo o território nacional, aspectos que D. Henrique vai ter em conta durante a sua regência, até D. Sebastião completar catorze anos.
D. Sebastião teve uma educação cuidada, mas era de um temperamento e humor variáveis, sujeito a períodos de depressão, e de carácter um pouco influenciável por aqueles que o cercavam. As lutas que entretanto houve no Norte de África, como na defesa de Mazagão, levavam-no a pensar em futuras acções em África.
Quando atinge os catorze anos, em 1568, D. Sebastião toma conta do governo e logo trata de reorganizar o exército, preparando-se para a guerra. Entretanto, para o país, o grande problema era o da sucessão do rei, pois era solteiro e parecia não se preocupar com isso, tendo-se malogrado várias negociações matrimoniais, circunstância que D. Sebastião atribui ao facto de não ter prestígio militar, o que o leva a sonhar cada vez mais com grandes feitos heróicos. Na Corte tentam fazer-lhe ver o perigo de tais acções sem primeiro ter assegurado a sucessão. Mas D. Sebastião ignora tais conselhos e, em 1572, deixa a regência a D. Henrique e faz uma viagem pelo Norte de África. O pretexto que D. Sebastião aguardava aparece com um problema surgido no Magrebe. D. Sebastião toma partido por uma das partes, sonhando dominar essa área e recuperar as praças antes abandonadas. O próprio rei, contra todos os conselhos, parte à frente de um exército que ele próprio preparara. Apesar de toda a bravura no combate, o exército português foi derrotado em Alcácer Quibir, e nessa batalha morre o rei D. Sebastião e uma grande parte da juventude portuguesa. Este desastre vai ter as piores consequências para o país, colocando em perigo a sua independência. O resgate dos sobreviventes ainda mais agravou as dificuldades financeiras do país. O cadáver de D. Sebastião foi encontrado e reconhecido, estando sepultado no Mosteiro dos Jerónimos. A crença popular não aceitou a sua morte e daí nasceu o mito do Sebastianismo.
Como não tinha descendentes, vai-lhe suceder o tio, o cardeal D. Henrique.

O Desejado
16.º Monarca
Reinado: 1557 - 1578
1554 - Nascimento de D. Sebastião em Lisboa.
1557 - Herança do trono de seu avô, por não existirem outros descendentes.
D. Catarina assume a regência.
1562 - Eleição do cardeal D. Henrique como regente após abandono de D. Catarina.
1568 - Coroação de D. Sebastião.
1572 - Publicação da primeira edição de Os Lusíadas.
1578 - Expedição a África na tentativa de recuperar as cidades abandonadas por D. João III
- Batalha de Alcácer Quibir onde D. Sebastião morre.


Cardeal D. Henrique

    Filho de D. Manuel I e de D. Maria, sua segunda mulher, nasceu em 1512, em Lisboa, onde morreu em 1580. Décimo sétimo rei de Portugal (1578-1580), é conhecido pelo cognome de "o Casto".
D. Henrique teve uma educação orientada para a vida eclesiástica, sob a orientação de mestres como Clenardo, Pedro Nunes e Aires Barbosa. Foi arcebispo de Braga, de Évora e de Lisboa, e foi nomeado por D. João III, seu irmão, inquisidor-mor do reino. Em 1545, é nomeado cardeal e, em 1552, legado apostólico em Portugal. Quando arcebispo de Évora, é por sua influência que é criada a Universidade local, entregue aos jesuítas. Como inquisidor-mor defendeu rigidamente os princípios religiosos.
Com a morte de D. João III, começa a notar-se a sua influência política como opositor da regente D. Catarina e contra a influência espanhola. É que D. Sebastião tinha apenas três anos e D. Catarina, sua avó, fora nomeada regente. Em 1562, com a demissão de D. Catarina, nas Cortes de Lisboa, o cardeal D. Henrique assume a regência, que mantém até 1568, quando D. Sebastião atinge a maioridade e assume o poder. Durante a sua regência dá-se uma divisão entre partidários de D. Catarina, de cariz pró-castelhano, e partidários de D. Henrique, nacionalistas, mas que D. Henrique consegue dominar.
Nos primeiros anos do reinado de D. Sebastião, D. Henrique continua a ser o seu principal orientador mas surgem desentendimentos e, em 1572, D. Henrique volta novamente para Évora, onde permanece até 1578, quando morre D. Sebastião. O cardeal D. Henrique foi um dos que sempre se opôs à aventura guerreira de D. Sebastião, não tendo apoiado a expedição a África.
Com a morte de D. Sebastião, e não tendo este sucessor directo, é o cardeal D. Henrique que sobe ao trono. Mas o problema sucessório, que angustiava os portugueses, mantém-se, pois D. Henrique, além de ser eclesiástico, era já velho. O cardeal D. Henrique vai tentar arranjar solução para este problema. Para tal, convoca Cortes para Almeirim e, inclusive, projecta casar. Pretendentes ao trono não faltam: D. Catarina, duquesa de Bragança; D. António, prior do Crato; o príncipe de Parma; D. Filipe II de Espanha (neto de D. Manuel I). D. Henrique inclinava-se para D. Catarina, mas não consegue impor-se. As pressões espanholas são muitas para que seja apoiado Filipe II de Espanha, a crise financeira é grande, agravada com o resgate dos prisioneiros de Alcácer Quibir, e D. Henrique deixa a resolução entregue às Cortes de Almeirim, que reúnem em 1580. Mas nestas Cortes também não se encontra a solução, apesar de se notar um maior apoio a Filipe II de Espanha.
Entretanto, em 1580, morre o cardeal D. Henrique e o problema da sucessão continua por resolver. Nessa altura é nomeada uma Junta Governativa, de cinco elementos, até à eleição do novo rei.